GOTHIC
Ao longo da história, o termo Gótico foi usado como adjetivo ou classificação de diversas manifestações artísticas, estéticas e comportamentais. Dessa maneira, podemos ter uma noção da diversidade de significados que esta palavra traz em si.
Originalmente, Gótico deriva-se de Godos, povo germânico considerado bárbaro que diluiu-se aproximadamente no ano 700 d.C.. Como metáfora, o termo foi usado pela primeira vez no início da Renascença, para designar pejorativamente a tendência arquitetônica, criada pela Igreja Católica, da baixa Idade Média e, por conseqüência, toda produção artística deste período. Assim, a arquitetura foi classificada como gótica, referindo-se ao seu estilo "bárbaro", se comparado às tendências românicas da época.
No século XVIII, como reação ao Iluminismo, surge o Romantismo que idealiza uma Idade Média, que na verdade nunca existiu. Nesse período o termo Gótico passa a designar uma parcela da literatura romântica. Como a Idade Média também é conhecida como "Idade das Trevas", o termo é aplicado como sinônimo de medieval, sombrio, macabro e por vezes, sobrenatural. As expressões Gothic Novel e Gothic Literature são utilizadas para designar este sub-gênero romântico, que trazia enredos sobrenaturais ambientados em cenários sombrios como castelos em ruínas e cemitérios. Assim, o termo Gothicism, de origem inglesa, é associado ao conjunto de obras da literatura gótica. Posteriormente, influenciado pela Literatura Gótica, surge o ultra-romantismo, um subgênero do romantismo que tem o tédio, a morbidez e a dramaticidade como algumas características mais significativas.
No final da década de 70 surge a subcultura gótica influenciada por várias correntes artísticas, como o Expressionismo, o Decadentismo, a Cultura de Cabaré e Beatnick. Seus adeptos foram primeiramente chamados de Darks, aqui no Brasil, e curtiam bandas como Joy Division, Bauhaus, The Sisters of Mercy, entre tantas outras. Atualmente, a subcultura gótica permanece em atividade e em constante renovação cultural, que não se baseia apenas na música e no comportamento, mas em inúmeras outras expressões artísticas.
Nos meados da década de 90, viu-se emergir uma corrente cultural caracterizada por alguns elementos comportamentais comuns ao romantismo do século XVIII, como a melancolia e o obscurantismo, por exemplo. Na ausência de uma classificação mais precisa, esta corrente foi denominada Cultura Obscura. Porém, de forma ampla e talvez até equivocada, o termo Goticismo também é usado para denominá-la.
Há algumas semelhanças entre Cultura Obscura e Subcultura Gótica. Mas há também diferenças essenciais que as tornam distintas. Por exemplo, a Cultura Obscura caracteriza-se por valores individuais e não possui raízes históricas concretas como a subcultura gótica.
Entre os apreciadores da Cultura Obscura, é possível determinar alguns itens comuns, como a valorização e contemplação das diversas manifestações artísticas. Além de uma perspectiva poética e subjetiva sobre a própria existência; uma visão positiva sobre solidão, melancolia e tristeza; introspecção, medievalismo, entre outros.
Sintetizar em palavras um universo de questões filosóficas, espirituais e ideológicas que agem na razão humana, traz definições frágeis e incompletas de sua essência. Obscuro, Sombrio ou Gótico podem ser adjetivos de diversos contextos e conotações. Mas é, principalmente, o espelho que reflete uma personalidade.
GÓTICO - ARQUITECTURA
Na arquitetura, o estilo gótico é caracterizado pelo arco de ogiva. Este estilo surgiu na França nos fins do século XII e expandiu-se pela Europa Ocidental, mantendo-se até a Renascença,
ou seja, até o século XIV, na Itália, e até o século XVI ao norte dos Alpes. Moore definiu a arquitetura gótica como um "sistema de abóbadas, cuja estabilidade era assegurada por um equilíbrio perfeito de forças". Esta interessante definição é infelizmente incompleta, pois nem sequer cita os arcos de ogiva. Mas a verdade é que, se este elemento é fundamen- tal no estilo gótico, aparece também noutros estilos, assim como o arco de volta inteira surge igualmente nos edifícios góticos. Durante o período românico, o arco de ogiva apare- ce principalmente nos lugares onde existe forte influência sarracena. Os arquitetos da catedral românica de Monreale, utilizaram-no freqüentemente. O românico espanhol, e até mesmo o provençal, empregaram o arco de ogiva. Por outro lado, num edifício tão gótico quanto a catedral de Chartres, as janelas da clarabóia da nave são de volta inteira, salvo nas suas subdivisões, assim como os arcos diagonais da Notre-Dame de Paris. O arco de ogiva, então, não é tão característico do gótico como geralmente se pensa.

A definição de Moore não menciona as paredes, mas somente os três elementos principais da construção. No gótico francês, uma vez chegado o seu máximo esplendor, a parede deixou de ser com efeito, elemento da estrutura. O edifício é uma gaiola de vidro e de pedra com as janelas que vão de um pilar a outro. Se a parede existe ainda, por exemplo, sob as janelas das naves laterais, é somente como defesa contra as intempéries. Tudo se passa como se as paredes românicas tivessem sido cortadas em secções e cada secção houvesse girado sobre si própria num ângulo reto para o exterior, de modo a formar contra-fortes.
No seu início o gótico francês baseava-se nos elementos estruturais definidos por Moore, porém essa definição só se aplicaria à elaboração do gótico francês não abrangendo a arquitetura gótica de outros países ou as fases ulteriores deste estilo na França.
A abóbada

Suporte
Uma vez que a arquitetura gótica se desenvolveu a partir da românica, podemos encontrar um colunelo para cada nervura da abóbada, o que efetivamente acontece sobre os capitéis da arcada da nave. Como as proporções do edifício se tornaram mais leves, os fustes são mais esguios do que na arte românica e sublinham o movimento ascendente do conjunto. Quanto ao pilar propriamente dito, o caso é diferente. O pilar composto românico, por mais lógico que seja, é relativamente espesso; define o espaço da nave central e a separa das laterais. As diferentes partes da igreja são desde então concebidas como unidades separadas. O gótico parece primeiramente retroceder. O pilar composto é substituído por uma coluna lisa e redonda cuja massa, menos volumosa, facilita a passagem entre a nave central e as laterais, criando um espaço único. Para que se torne possível utilizar colunas lisas, os suportes aparentes dos arcos da abóbada devem terminar ao nível dos capitéis, o que embora seja arquitetonicamente possível, é pouco estético. Com efeito, as verticais rígidas dos colunelos parecem interromper-se muito bruscamente.
Entretanto, o desejo de se construir catedrais cada vez mais altas, leva a um grande aprimoramento técnico. Exemplo disso são os fortíssimos pilares de Chartres, nos elegantes fustes de Amiens, testemunho de uma experiência mais avançada em termos de arquitetura.
A habilidade técnica em constante progresso dos construtores dos séculos XIV e XV, permitiu recorrer novamente ao pilar composto, cujos elementos serão tão finos e tão delicados, que parece desafiar as leis da gravidade.
Contraforte
É o terceiro e último elemento estrutural do gótico. As paredes góticas ao contrário das românicas são finas ou inexistentes, sendo o contraforte tipicamente gótico composto de duas partes. A primeira, o contraforte propriamente dito, inspira-se no contraforte românico e está colocado em ângulo reto em relação a igreja, contra a parede lateral, e, eleva-se muito altamente, num enorme grau de perfeição. O peso deste elemento neutraliza a pressão das abóbadas. O segundo elemento, ou arcobotante, é especificamente gótico. O arcobotante tem uma caixilharia diagonal de pedra; está escorado de um lado pelo contraforte, colocado a certa distância da parede, e por outro lado pela clarabóia da nave. O arcobotante dirige a pressão da abóbada para o exterior por cima da cobertura da nave central. Como é cimbrado por baixo, exerce um pouco de pressão sobre o vão; sozinho não poderia resistir à pressão lateral das abóbadas, mas associado aos contrafortes, tem uma força enorme.
Foi graças a esse elemento que o gótico ousou construir naves tão altas e tão claras. Assim, a catedral gótica eleva-se para o céu como uma oração e, tal como a filosofia medieval, exprime o intangível e transcende o homem, na sua procura do além.
ESCULTURA GÓTICA
A humanização do céu

Os temas mais comuns, sobretudo na fachada (portal), são os seguintes: Cristo em Majestade, associado ao Tetramorfo; Juízo Final; Virgem em Majestade, Vida da Virgem e Nascimento de Cristo - um tema introduzido por influência da difusão do culto mariano desde os finais do século XII - Episódios da vida dos santos patronos da respectiva igreja - associados a estes temas começa a ser mais comum a existência de relevos escultóricos e estatuária de caráter profano. Se a estátua-coluna e o relevo têm uma relação de dependência com o respectivo suporte arquitetônico, a partir do século XIV torna-se muito abundante a escultura de vulto redondo, estatuária de devoção associada às práticas da piedade individual e destinada a capelas ou oratórios privados. É sobretudo constituída por imagens da Virgem (Virgem com o Menino, Senhora do Ó ou Santas Mães, Pietà), de santos e crucifixos, e executada em materiais diversos, como a pedra, madeira, marfim, bronze, ouro e alabastro. Em termos de linguagem plástica, e no conjunto de toda a produção escultórica, podem ser definidas três tendências principais: Idealismo (séculos XII-XIII), com figuras estilizadas e ausência de expressividade dos respectivos rostos (serenidade inexpressiva); hieratismo das estátuas-coluna: ausência de movimento, panejamentos rígidos acentuam a verticalidade, ausência de proporção anatômica; Naturalismo (2ª metade do século XIII a meados do XIV), em que a estatuária ganha vida e movimento, com ancas pronunciadas e silhuetas "em S" para evidenciar dinamismo, acentua-se a expressão do rosto e surgem detalhes mais minuciosos no tratamento de cabelos e barbas, conferindo um caráter mais humano às personagens divinas representadas; Realismo (2ª metade do século XIV e durante o século XV), época do triunfo da curva e contra-curva, ondulação excessiva, sobretudo no drapeamento, que acentua a expressividade das estátuas; preocupação absoluta de representação do real, que conduz à procura da verossimilhança no retrato; por influência da grande mortandade após 1348 e os progressos nos estudos anatômicos levam mesmo ao exagero de representar o corpo feito cadáver.
Sobre a escultura gótica

Talvez a inovação mais significativa se relacione com a organização do portal do templo: as ombreiras, ou jambas, são substituídas por estátuas-coluna que se prolongam nas arquivoltas em torno do tímpano. A evolução dos temas e da iconografia, inspirada no Novo Testamento, continua sendo estabelecida por motivações de ordem religiosa - Cristo em Majestade, Juízo Final (com os Apóstolos distribuídos pelas ombreiras) e a Virgem em Majestade -, mas, de um modo geral, as figuras são humanizadas estabelecendo entre elas uma relação afetiva. A partir de meados do séc. XII, o santo patrono da igreja ocupa o tímpano numa mandorla e no centro de cenas da sua vida, ao qual se juntam todos os santos da diocese nas ombreiras, em estátuas-coluna. A escultura gótica caracterizou-se, sobretudo, pelo naturalismo das expressões e dos detalhes mais minuciosos e por uma representação mais próxima do real. Para além destas manifestações, surgem com grande impacto na produção escultórica as estátuas jacentes e os retratos funerários, o que se deveu fundamentalmente à proliferação de capelas privadas para albergar sepulcros de nobres, altos dignitários eclesiásticos e burgueses.
QUIMERAS, GARGULAS E FIGURAS GROTESCAS
Quimeras
Remontam, pelo menos, à Antiguidade Clássica os exemplos de várias figuras mitológicas, muitas vezes deuses ou semideuses, que retratavam entes híbridos, ou seja, uma combinação de outros seres, os quais eram dotados de determinados atributos ou simbolizavam qualidades específicas.

Enfim, são numerosas, embora muitas vezes baseadas em idênticos temas, as imagens que reuniam as características destas figuras híbridas e que foram adotadas por diferentes povos, sendo quase certo as mais antigas terem influenciado as seguintes, mesmo em espaços geográficos relativamente distantes.
Mas qual era a função de tais imagens? Uma das explicações que parece reunir maior consenso é a de que serviriam como "guardiãs", protegendo das influências maléficas os locais onde estavam implantadas.
Uma vez que, em vários casos, estas quimeras antigas representavam divindades ou heróis míticos com poderes sobre-humanos, esse papel protetor sobressai assim como um motivo plausível para que tenham sido retratadas das mais diversas formas: em pequenos artefatos, em jóias ou amuletos, em recipientes e escudos, quer pintadas, quer esculpidas, surgindo tanto em templos como em edifícios laicos e até mesmo em casas particulares.
Gárgulas
Crê-se que as chamadas gárgulas, figuras por vezes igualmente quiméricas, começaram por ser aplicadas para embelezar os orifícios por onde as águas escorriam dos telhados para o chão.
Sabe-se que já em algumas edificações gregas, ao longo dos rebordos dos telhados inclinados,
nas extremidades destes e, eventualmente, também ao longo das paredes, existiam pequenas caleiras para recolha da água das chuvas, que era canalizada para orifícios por onde se escoava. Em alguns casos, a água era conduzida para baixo por uma conduta, cuja extremidade inferior encaixava por detrás da escultura de uma cabeça de leão, de modo que a boca jorrasse a água para longe (mais uma vez a figura do leão surge como protetora não só contra os inimigos terrenos, como contra espíritos malignos).

Mas seria sobretudo na época medieval, mais precisamente no período entre os séculos XII e XV, a partir da construção das grandes catedrais góticas, que as gárgulas viriam a popularizar-se na Europa Ocidental, principalmente na França, embora também na Inglaterra e, em menor escala, em outros países. Porém, nessa altura, as temáticas representadas tinham já recebido influências de outros povos e culturas, como os Celtas e os Normandos, muito embora sob o olhar atento da Igreja de Roma.
Segundo parece, as gárgulas começaram por ser peças em madeira ou cerâmica. Porém, só após se ter generalizado o uso da pedra para essa finalidade (sobretudo o calcário ou o mármore, embora tenham também existido esculturas em terracota, que não chegaram aos nossos dias) é que surgiu a possibilidade de passar a esculpir as figuras com maior riqueza de pormenor. São igualmente conhecidos alguns exemplos, relativamente raros, feitos em metal.

Tal como sucedia nas construções gregas, um dos motivos mais correntemente apontados para a utilização das gárgulas refere a necessidade, em termos de conservação das obras arquitetônicas, de fazer com que a água das chuvas que se abatiam sobre os edifícios fosse captada após escorrer pelas paredes, conduzida por caleiras que separavam essas escorrências em várias direções, e levando a que fossem projetadas para longe das paredes e fundações no exterior das construções, evitando assim que se infiltrassem no solo junto aos alicerces, onde acabariam por dissolver as argamassas e arruinar as alvenarias, ou que desgastassem as pedras exteriores, trazendo perigo à estabilidade da construção.
Para que essas tão necessárias goteiras, que seriam protuberâncias inestéticas destacadas visivelmente nas esquinas, não destoassem no conjunto harmônico de toda a edificação, teria então surgido a hipótese de as ornamentar com esculturas. Porém, pelo menos de início, isso só acontecia nos edifícios de maior porte ou nas construções pertencentes aos mais abastados, já que se tratava de um tipo de trabalho bastante caro para a época – à semelhança do que ocorria com outras figuras no interior dos templos, as gárgulas também eram ricamente pintadas e algumas chegavam a receber ornamentos dourados.
As figuras grotescas
O termo grotesco – sob o qual são frequentemente englobadas tanto as quimeras (já pouco mais que decorativas, durante a Idade Média) como as gárgulas (exclusivamente aplicadas nas saídas de água) e ainda outras figuras monstruosas exibidas também no interior dos edifícios – só se generalizou durante o Romantismo.
É possível classificar estas figuras como sendo antropomórficas (aquelas em que é retratada a figura humana) ou zoomórficas (aquelas que representam animais), bem como detectar a sua evolução ao longo dos séculos.

Por exemplo, relativamente ao emprego das gárgulas durante a Idade Média, muitas das fontes que se debruçam sobre o tema começam por mencionar a própria designação de gárgula. Uns afirmam que a palavra que se refere ao gorgolejar da água quando passa através de um orifício; outros alvitram que provém do termo latino gorgulio, ou do francês gargouille, ambos significando garganta. Esta última tese tem ainda em seu apoio a Lenda de La Gargouille. Rezava uma história popular medieval que, no século VII, vivia na região de Paris, numa gruta próxima do Rio Sena, um dragão apelidado La Gargouille, com o hábito de sair do seu covil para engolir barcos e pessoas. Os aldeões locais viviam aterrorizados e todos os anos sacrificavam uma vítima ao dragão, numa tentativa de o apaziguar. O povo acabaria por ser salvo por um padre, que prometeu derrotar o dragão se aí fosse erguida uma igreja e se todos os habitantes concordassem em ser batizados. Após um combate decisivo o dragão foi derrotado e o padre arrastou o corpo do monstro para a aldeia, onde lhe lançou fogo. Porém, a cabeça e pescoço do dragão não arderam, pelo que acabaram por ser colocados numa parede da igreja.
Mas, para além desta lenda, que não esclarece muito em relação à exibição das gárgulas e quimeras nos edifícios medievais, particularmente os religiosos – sobretudo se tivermos presente que, de início, muitas destas figuras eram de inspiração pagã e pré-cristã – há outras tentativas de explicação para este fenômeno.

Por fim, há também quem seja de opinião de que é pouco provável que se consigam extrair ensinamentos com significado religioso de muitas das figuras, nomeadamente daquelas que são antropomórficas, realizadas já durante a fase final do período gótico. Nestas sobressaem sobretudo as caretas e posturas corporais mais ridículas e menos assustadoras, motivo pelo qual se julga que poderiam ser uma forma de chacota relativa à personagens locais, de crítica social ou dos costumes da época.
Outra peculiaridade que tem intrigado os estudiosos é a questão de, estando as gárgulas e quimeras habitualmente colocadas num plano bastante elevado e em recantos por vezes quase invisíveis a partir do solo, por que é que foram esculpidas com tão grande preocupação e riqueza de detalhes? Uma das explicações avançadas refere que, sendo estas esculturas realizadas para glorificar o Senhor, como, de resto, todas as catedrais góticas, e estando, para além disso, colocadas tão alto (e assim mais próximas dos Céus), Deus poderia mais facilmente aperceber-se da perfeição do trabalho feito.
Enfim, muito mais poderia ser dito acerca destas curiosas figuras, nomeadamente no que diz respeito a numerosas personagens que surgem repetidamente, e cujo estudo aprofundado revela influências das mais variadas origens, quer geográficas, quer culturais. Certo é que, embora tenham perdido a carga simbólica que tiveram outrora, ainda hoje mantêm o seu fascínio, continuando a ser aplicadas como ornamento em várias construções, e não deixa de ser empolgante para muitos tentarem decifrar os mistérios que parecem obstinadamente encobertos...
CULTURA OBSCURA
O espírito romântico do século XXI
Introdução
Na ausência de uma classificação mais precisa, foi denominada Cultura Obscura, o conjunto de elementos que caracterizam o grupo de indivíduos que surgiu nas metrópoles brasileiras, em meados da década de 90 e está se consolidando nestes primeiros anos do século XXI. Suas principais características, tanto comportamentais quanto artísticas, podem ser associadas ao movimento Romântico europeu do século XVIII, mas ainda assim, ficou sendo considerada por muitos, uma ramificação da subcultura gótica/darkwave.
Não é possível determinar um ponto de partida específico para o surgimento da cultura obscura. Porém, por cultivarem algumas referências artísticas comuns, é provável que seja um subproduto, mas não uma evolução, da subcultura gótica. Neste caso, a cultura obscura une e intensifica os elementos românticos encontrados na subcultura gótica, consolidando-se como uma manifestação distante de sua possível origem.
Apesar do termo gótico estar relacionado à subcultura gótica/darkwave, também é amplamente usado para classificar os adeptos da cultura obscura. Neste caso, o termo gótico é utilizado em sentido parecido ao do termo Literatura Gótica, ou seja, como sinônimo de obscuro ou medieval, sendo estas, características muito presentes na cultura obscura.
Ainda, o termo Goticismo (do inglês Gothicism), que originalmente refere-se apenas à Literatura Gótica, também é utilizado, de forma equivocada, como uma "variação" da expressão cultura obscura. Apenas nesta situação, goticismo abrange o comportamento, arte e "filosofia" da cultura obscura.
A expressão "nascer gótico" (gótico neste caso relativo à cultura obscura) é comumente usada entre os adeptos da cultura obscura e interpretada de forma equivocada por outros. Obviamente, não é possível compreender esta expressão em sua forma literal. Isto porque não é possível "nascer já sendo alguma coisa"; ou seja, ninguém nasce com uma doutrina, ideologia, ou religião pré-estabelecidas, por exemplo. Neste caso, a expressão "nascer gótico" significa que, ao longo da vida, de forma indireta e natural, uma pessoa cultivou em sua própria personalidade, valores que se identificaram e se associaram às principais características da cultura obscura. Portanto, não houve uma mudança repentina e intencional para "virar gótico". Neste caso, o que ocorre, é um processo natural de conhecimento e identificação.
Características Gerais
Apesar de ser considerada por muitos, uma tribo urbana, a cultura obscura não se caracteriza necessariamente pela coletividade, mas principalmente pela individualidade. Uma vez que se aborda personalidades e comportamentos que tendem a encontrar expressões artísticas comuns.
Desse modo, não há um conjunto específico de influências, regras ou doutrinas pré-estabelecidas. Porém, alguns pontos podem sugerir um "contramovimento social". Por exemplo, há na sociedade, de um modo geral, uma busca intensa pelo mercantilismo, a indução selvagem ao status e a exploração da arte pelo consumismo. A cultura obscura contraria essas tendências, contrapõe-se aos rótulos e modismos, choca-se com ideais consolidados e valoriza, sobretudo, a arte e a expressão individual.
Para que algumas de suas principais características tornem-se mais nítidas, pode-se associá-las ao Romantismo Literário. Não apenas no aspecto artístico, mas principalmente, na questão comportamental. É este romantismo, reacionário ao iluminismo e ponto de partida da subcultura gótica, responsável pelas bases obscuras desta cultura. A superestimação do ego e, conseqüentemente, dos próprios sentimentos que, exteriorizados, formam uma realidade idealizada do mundo. A evasão, que consiste numa fuga psicológica da realidade, é responsável pela supervalorização do passado, seja individual ou histórico, como no saudosismo. Assim, percebe-se com nitidez a intersecção entre Romantismo e Cultura Obscura.
Entre seus adeptos, podemos encontrar um constante interesse pela cultura, valorização e contemplação de diversas manifestações artísticas; perspectiva poética e subjetiva sobre a própria existência; visão positiva sobre solidão; melancolia e tristeza; introspecção e medievalismo; etc. A soma destas características compõe uma cultura de atmosfera sombria, romântica e poética. Mas, geralmente, é vista pela sociedade, de forma preconceituosa, como uma manifestação depressiva e negativa.
A Literatura, além de ser uma das manifestações artísticas mais consumidas e produzidas na cultura obscura, fornece uma definição estética e ideológica bem próxima dos elementos que a compõem. Compor um poema, por exemplo, é uma forma de penetrar no próprio âmago, conhecer a si próprio, confrontar os temores e revelar os mais profundos sentimentos.
Mais uma vez, o romantismo faz-se presente; especialmente o ultra-romantismo ou "mal-do-século". Não apenas por suas obras, mas principalmente por suas características: subjetivismo, saudosismo, predileção pelo noturno e pelo sobrenatural, por exemplo. Obras de autores como Allan Poe, Lord Byron, Lovecraft e Álvares de Azevedo são amplamente absorvidas.
A música pode ser classificada como o principal veículo de divulgação no que se refere à Cultura Obscura. Mas, como em outras expressões, não é possível traçar uma linha nítida relacionada à estilos ou artistas específicos.
As bandas que surgiram no início da década de 80, no período conhecido como pós-punk, e atualmente são classificadas genericamente de góticas, também são apreciadas; como o Joy Division, por exemplo.
O Gothic Metal, nome dado genericamente ao estilo que combina Metal e Neoclássico, traz em letras e arranjos uma boa parte dos temas abordados: alusão à obras literárias e mitologia, citações em latim e arcaísmos, entre outros elementos.
Porém, a cultura obscura ainda abriga outros estilos e referências musicais. Por exemplo, música medieval e renascentista, e compositores clássicos e neo-clássicos. Ainda, estilos mais suaves como New Age, Dark Atmospheric (ou Dark Ambient) e Ethereal.
Na cultura obscura não há uma religião ou doutrina espiritual a ser seguida. Mas há um grande interesse por religiões do período pré-cristão, por diversas correntes e doutrinas esotéricas e pela própria espiritualidade. Este interesse é, sem dúvidas, fruto de um desejo de autoconhecimento e de elevação espiritual próprios de seus adeptos.
Nas plásticas e na estética, as emoções são figuradas e personificadas. Anjos e demônios convivem como nas ilustrações de William Blake, o terror pode ser encontrado em Nosferatu, do expressionismo alemão. Vê-se ironia e macabrismo no cinema de Tim Burton. Assim como sombras urbanas emergem na lendária Gotham City. Castelos e catedrais, gárgulas e quimeras coexistem na Arte Digital. Definições e exemplos tão distantes que se tornam próximos e coerentes a olhos intensos e românticos. A combinação de certos elementos compõe uma obra, um ambiente ou uma paisagem, impregnada de lirismo obscuro, como na melancolia decadente de um cemitério ou na grandeza de uma catedral.
Diversas expressões artísticas de culturas e épocas distintas encontram-se na cultura obscura: do romantismo ao modernismo; da prosa à poesia; do sacro ao profano... Uma cultura que não necessita de regras, apenas de identidade; que não pode ser sintetizada em algumas palavras; mas que é ampla e democrática para abrigar elementos tão distantes e incluí-los sob uma mesma perspectiva.
SUBCULTURA GÓTICA
Origens, influências e consolidação
Introdução
Gótico: apenas uma palavra
Ao longo dos anos, o termo gótico foi usado como adjetivo e classificação de várias expressões artísticas, estéticas e comportamentais. Mas, em sua maioria, estas classificações não possuem nenhuma relação com o significado primitivo da palavra.
O termo Gótico, que originalmente significa apenas relativo a Godos ou proveniente deles, foi usado a partir do início da Renascença, para designar de forma depreciativa a produção cultural ocorrida entre os séculos XII e XV e posteriormente de toda Idade Média, a qual foi associado o conceito de Idade das Trevas, em oposição à nova Idade da Razão ou da Luz: o Iluminismo (XVII e XVIII). Mas nos séculos XVIII e XIX, por exemplo, gótico foi associado ao período medieval e aplicado à Literatura. Além disso, o termo Goticismo tem origem inglesa, Gothicism, e relaciona-se apenas à Literatura.
Em 1979 o termo gótico já foi utilizado para designar o movimento sócio-cultural que se constituía e se consolidaria poucos anos depois. Mas, a subcultura gótica/darkwave não possui nenhuma relação com os Godos, como a própria "arte gótica" (entre os séculos XII e XV) não possui. Portanto, em uma de suas primeiras aplicações, a palavra Gótico já foi usada com um sentido que não corresponde ao original, e torna-se nítida a diversidade de significados que esta palavra traz em si.
A subcultura Gótica/Darkwave
A subcultura gótica (relacionada a Darkwave a ponto de ser assim chamada por alguns) como conhecemos atualmente, é um contexto artístico e comportamental que inclui literatura, música, cinema, artes plásticas e vestuário (entre outros), de forma que um elemento enriqueça o outro e multiplique-se.
Pode-se dizer que sua origem ocorreu nos primeiros anos da década de 1980, mas suas influências iniciam-se no Romantismo do século XIX e passam pelo Modernismo, com o Impressionismo, Expressionismo e Surrealismo e Cabaret Culture, do século seguinte. Porém, a Geração Beatnick, inspirada na boêmia moderna, filosófica e artística francesa a partir de 1950 e posteriormente pelos escritores Beats dos Estados Unidos, é a influência mais recente e significativa da subcultura gótica/darkwave.
No final da década de 60, os beatnicks se diluíram e formaram ramificações como o movimento Punk e Glam da década de 70. A música de artistas como David Bowie e Velvet Underground, referências do Glam e do Punk, trouxeram vários elementos da cultura beatnick, como a prosa e a poesia. Dessa forma, o Glam e o Punk foram influenciados pela Cultura Beatnick, mas também foram determinantes nas características da subcultura gótica.
Mas todas essas tendências que influenciaram e compuseram a subcultura gótica, desde o Romantismo até as mais recentes, são apropriações e releituras através de abordagens distintas, muitas vezes, de forma alegórica e metafórica. As transições entre uma e outra, ocorrem sem rompimentos bruscos, de forma que as tendências posteriores resgatam elementos primitivos e somam-se aos seguintes.
É importante salientar que os fatores que definem uma corrente artística, filosófica ou apenas comportamental, não são apenas os temas adotados, mas principalmente a abordagem, ou a forma como os temas são trabalhados e expostos.
A subcultura gótica/darkwave, não se baseia apenas em alguns temas específicos, mas principalmente, em uma abordagem própria. Para que possamos compreender com mais clareza as características principais que compõem a subcultura gótica, desde o uso do termo gótico até as influências culturais e comportamentais mais presentes, é necessário recapitular alguns pontos.
A Baixa Idade Média
O período da Idade Média, compreendido entre os séculos V e XV, divide-se em dois sub-períodos: Alta Idade Média (V à XI) e Baixa Idade Média (XI até o século XV). É no início da Baixa Idade Média, na França, que surge a Arte Cristã ou Opus Francigenarum (obra francesa), que, aos poucos, substituiria o estilo românico e futuramente, no período da Renascença, passaria a ser conhecida, pejorativamente, como Arte Gótica.
O Teocentrismo, baseado na concepção de que Deus é o centro do universo, foi a corrente de pensamento predominante no período medieval. Assim, a Igreja Católica, responsável pela "educação espiritual" dos homens, consolidou-se como a principal autoridade. O poder econômico e político, e as influências sobre as ciências e artes, subordinavam reinados ao comando do clérigo. Era a Igreja que ditava os rumos que a ciência deveria seguir, que dirigia os exércitos e proclamava as leis. Além disso, a peste negra do século XIV, a exploração do feudalismo e a imutável hierarquia social contribuíram para a criação de uma situação calamitosa no fim do século XV. No século seguinte haveria o início de uma reação em todos os níveis, com o começo da Idade Moderna e a transição sócio-econômica para o Renascimento.
A Renascença e a Idade das Trevas

Além de inovações nos aspectos políticos e sociais e avanços técnicos e científicos, foi na Renascença que outros continentes foram descobertos através da navegação, que nasceu a imprensa e inventou-se a bússola. Foi neste período que o alemão Martin Luther deu início à Reforma Protestante; que Michelangelo pintou a Capela Sistina; que Copérnico escreveu De Revolutionibus Orbium, entre outros.
Os renascentistas acreditavam que a arte clássica greco-romana, que admiravam e buscavam reviver, havia sido denegrida na Idade Média pelos cristãos e, que a Igreja, através do poder exercido pelos dogmas religiosos, vetava os avanços tecnológicos e condicionava a produção artística. Neste contexto renascentista inclui-se também uma forte oposição ao Clero, embutida no Antropocentrismo, corrente filosófica na qual o homem é o centro do universo e, naturalmente, oposta ao Teocentrismo medieval. Dessa forma, mesmo sendo considerada uma etapa evolutiva do período medieval, a Renascença desprezava a cultura da Idade Média.
Assim, grande parte da arte produzida na Idade Média, como a arquitetura, escultura e pintura, foi classificada como gótica, em alusão ao Godos, povo germânico que invadiu o império romano a partir do século III.
Esta classificação tinha a clara intenção de denegrir a produção artística medieval, por considerá-la bárbara, rude, grosseira, exagerada; ou seja, com os mesmos adjetivos que caracterizavam os Godos.
Assim, a civilização dos Godos, que havia sido diluída no século VIII, portanto, 700 anos antes da Renascença, tornou-se um "bode-expiatório" dos renascentistas e a própria palavra Gótico teve seu sentido ampliado, podendo ser compreendido como sinônimo de bárbaro ou vulgar. Ainda, ao longo dos anos, a Idade Média iria tornar-se conhecida como Idade das Trevas, Noite da Humanidade, entre outras denominações.
Racionalismo, Iluminismo e Revoluções
Personagens como René Descartes, John Locke, Pascal e Newton figuraram no século XVII. O Racionalismo, baseado no conceito de que apenas a Razão (raciocínio lógico) seria suficiente para o desenvolvimento da humanidade, e o Humanismo, resgatando os filósofos da Antiguidade, eram as correntes que influenciavam as artes e as ciências. No panorama artístico, a arquitetura, escultura e pintura, destacaram o Classicismo e o Barroco.
Em meados do século XVII surge Iluminismo - tendo seu apogeu no século XVIII - que de certo modo, é herdeiro dos conceitos racionalistas e humanistas dos séculos anteriores aliado a uma maior liberdade de expressão individual. É o movimento iluminista que proclama o início de uma "era de luz" para a humanidade e um dos impulsionadores do capitalismo, além de tornar-se uma das principais referências na arte.
Neste momento, surge na Inglaterra e alastra-se pela Europa, um fenômeno sócio-político que seria conhecido como a 1ª Revolução Industrial. Ainda, desenvolve-se o Liberalismo político/ econômico e consolida-se o capitalismo. Assim, o século XVIII torna-se conhecido como o "Século das Luzes". Porém, todas essas mudanças bruscas trazem efeitos colaterais no âmbito social.
Os avanços tecnológicos que proporcionaram a Revolução Industrial deram início a uma urbanização desenfreada e sem planejamentos com a migração do homem do campo para as áreas centrais, que resultaram em cidades sem infra-estrutura social e administrativa. As jornadas de trabalho tornam-se muito extensas e o valor da mão-de-obra, irrisório. Iniciam-se reações violentas por parte dos trabalhadores explorados e desempregados. Em algumas regiões, o número do crescimento populacional quadruplica. Em Paris, 25% da população é constituída por mendigos. Surgem as epidemias de tifo, cólera e tuberculose. Por outro lado, nascem os conceitos de capitalismo e a classe burguesa. No final deste século ocorre a Revolução Francesa (1789), que marca o início da era contemporânea. Baseadas em conceitos do Iluminismo, no século XVIII se desenvolvem as idéias Republicanas, postas em prática também na Independência dos Estados Unidos, em 1777. No Brasil, estas idéias também chegaram na mesma época, mas a nossa tentativa de independência, a Inconfidência Mineira, é abortada em 1789.
O quadro de miséria e desigualdade criado na Europa gerou uma insatisfação social e resultou num processo de regressão que buscava os ideais medievais ignorados pela Renascença. Inicialmente, essa tendência desenvolvia-se apenas no sentimento e comportamento coletivo. Porém, logo passou a designar um rumo artístico e uma nova visão do mundo centrada no indivíduo. A partir desta nova concepção iniciou-se o período do Romantismo.
O Romantismo
O Romantismo é um período cultural que se inicia na Europa no final do século XVIII, estendendo-se e desenvolvendo-se por outras partes do globo até o final do século XIX. Pode-se considerar que seu início ocorreu na Itália, Inglaterra e Alemanha (na Alemanha conhecido como Sturm und Drang - Tempestade e ímpeto). Porém, foi na França que o romantismo intensificou-se mais do que em qualquer outra nação. Foi através dos artistas franceses que os ideais românticos se solidificaram pela Europa e América. Sob o aspecto ideológico, o Romantismo pode ser considerado uma reação de fuga, ao iluminismo e racionalismo do período anterior.
As principais características do Romantismo são a valorização das emoções em temas que recorrem à religião, nacionalismo, amor, individualismo e subjetivismo, desenvolvidos a partir da originalidade e liberdade criativa do artista. Na pintura, o francês Delacroix e o espanhol Francisco Goya são os maiores representantes. Na música, ocorre a potencialização da expressão individual através de temas folclóricos e nacionalistas. Neste período romântico da música, destacam-se as últimas obras de Beethoven, além das composições de Wagner, Chopin e Schumann, entre outros. Mas foi através da Literatura que o Romantismo teve suas expressões mais intensas e solidificou sua identidade.
Romantismo Literário e Gothic Novel
A obra do escritor alemão Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther, publicada em 1774 foi uma das precursoras do romantismo. Este livro trazia intensidade emotiva sob a liberdade criativa do autor, além de outros aspectos fundamentais do romantismo.
Além disso, uma das principais características do Romantismo Literário era a evocação à Idade Média em seus temas. Neste caso, o autor almejava uma idealização que não correspondia à sociedade ou ao período em que vivia realmente. Esta característica é conhecida como "Espírito de evasão". Porém, esta referência medieval do romantismo era sob uma perspectiva idealizada. Isto é, buscava resgatar valores como honra e valentia que, na visão do escritor, eram comuns no período medieval, mas que não necessariamente existiram.

Nas últimas décadas do século XVIII emergiram escritores como Ann Radcliffe, autora de Os Mistérios de Udolpho e a poesia de William Blake com Canções da Experiência e da Inocência (ambos em 1794), além de Frankenstein, de Mary Shelley, já no início do século XIX. Até as décadas de 30 e 40, o romantismo ainda figura como a principal orientação da produção artística. Essa tendência romântica atinge também a moda, hábitos e costumes da sociedade. Na França, por exemplo, há um resgate de elementos do vestuário, linguagem e costumes do período anterior à Revolução. Na Inglaterra, o Literary Gothicism ressurge na era vitoriana, entre a burguesia.
Ainda na primeira metade do século, tem início o Romantismo brasileiro. A obra Suspiros Poéticos e Saudades (1836) de Gonçalves de Magalhães é considerada a precursora desse estilo literário no Brasil. O Romantismo no Brasil estende-se "oficialmente" até 1880 e divide-se em três gerações: Nacionalista, Ultra-romântica e Condoreira.
Na segunda metade do século XIX surgiram outros movimentos que influenciaram várias expressões artísticas. O Esteticismo com o conceito de auto-suficiência da arte (arte pela arte), sem que esta sofresse interferência de outros valores, como sociais, religiosos ou políticos. O parnasianismo, essencialmente literário, que reagia aos excessos românticos e negava o subjetivismo, baseando-se no domínio da razão e nos ideais voltados para o belo. Também em reação aos excessos do Romantismo, surge o Realismo e o Naturalismo. No Brasil temos uma transição gradual, com autores como Machado de Assis, autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e inúmeros outros clássicos reconhecidos internacionalmente.
O Simbolismo
O Simbolismo, surgido na França na segunda metade do século XIX, caracteriza-se pelo subjetivismo, individualismo e misticismo; rejeitando valores do realismo e naturalismo como a abordagem social. Artes plásticas, teatro e, principalmente, Literatura, são orientadas pelas tendências simbolistas.
No Simbolismo literário rejeitava-se as formas parnasianas e valorizava-se a sugestão sutil das idéias, usando as metáforas como um de seus principais recursos. Ao mesmo tempo em que o Simbolismo criticava os excessos românticos, fazia uso de certos elementos deste, como o próprio subjetivismo. O Manifesto Simbolista (1886), de Jean Moreas, declara a poesia simbolista "inimiga do ensino, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva".
O ensaio de Poe, The Philosophy of Composition (1846), influenciaria também as teorias de Baudelaire, que por sua vez agiu diretamente sobre Mallarmé. A obra de Poe também se faz atuante sobre Rimbaud e Oscar Wilde e ainda sobre o Modernismo do início do século XX. Através de sua obra, As Flores do Mal (1857), Baudelaire passou a ser considerado o precursor do simbolismo literário.
Há ainda, o Decadentismo, no qual abandona o conceito de objetividade realista e volta-se às realidades interiores e subjetivas, compondo também a corrente simbolista. Porém, segundo Fernando Pessoa, esses movimentos, especialmente o decadentismo e o simbolismo, surgiram do romantismo e eram "inversão das posições mentais da inteligência".
O Modernismo
Neste momento, o pré-modernismo já sugeria os conceitos inovadores que se destacariam anos depois com a consolidação do Modernismo. A Belle Époque (aproximadamente 1900-1910), surgida na França, é resultado de um período otimista que se reflete nas artes, como o cinema, e nos níveis sociais, com o Cancan dos Cabarés e o glamouroso Moulin Rouge. Paris torna-se a capital mundial da cultura e os boulevards, livrarias e teatros consolidam a imagem da prosperidade intelectual e cultural francesa. Esta "atmosfera" entende-se até meados da década de 40 e consagra um período de ebulição cultural, política e social na Europa.
Nas primeiras décadas do século XX, Einstein anuncia a Teoria da Relatividade, Santos Dumont voa com o 14 Bis, Auguste Lumière concebe a fotografia colorida e, nas artes plásticas, surge o cubismo de Picasso e Braque. O escritor e teatrólogo francês, Antonin Artaud, é uma das figuras mais influentes no meio intelectual francês e europeu. Os movimentos vanguardistas, como o Art Nouveau na pintura e principalmente arquitetura, buscavam conceitos artísticos que represen- tassem as novas tendências da humanidade, mas principalmente, uma reação aos valores europeus dos últimos três séculos, movidos pelas incertezas políticas e pela psicanálise de Freud.
O arquiteto Le Corbusier foi um dos destaques modernistas, enquanto na música, Stravinsky e Shoenberg são ícones do movimento, além de Debussy, Satie, Stockhausen, John Cage e outros. Na Literatura Modernista, que de certa forma combinava-se com o Simbolismo, consagrou autores como T. S. Elliot, James Joyce, Fernando Pessoa, Apollinaire e Franz Kafka. A Staatliches Bauhaus, escola alemã de artes e arquitetura fundada em 1919, foi uma das maiores propagandistas e precursoras de movimentos vanguardistas até 1933, quando foi fechada pelo estado nazista na república de Weimar, sob a pena de "degenerar" a arte pura européia combinando-a com outras influências (orientais, por exemplo). Sendo esse conceito exatamente o oposto dos ideais fascistas que promulgavam a superioridade dos europeus.
Expressionismo
O Expressionismo surge em 1905, mas ganha força após a Primeira Guerra Mundial. O Expres- sionismo busca retratar a realidade com as proporções sentidas, não apenas reproduzir a realidade. Assim como o Cubismo busca mostrar vários pontos de vista em vários tempos, o Expressionismo também vem afirmar esteticamente que não existe uma realidade única. De certa forma, compartilha características comuns com o romantismo, como o subjetivismo, além do cubismo e simbolismo, e soa como uma reação artística à Primeira Grande Guerra. Nesse momento, há também uma influência das artes africanas e orientais dentro do contexto europeu.
O norueguês Edvard Munch é um dos precursores do expressionismo e sua influência estenderia-se e tornaria-se uma das mais intensas nos anos seguintes do movimento. Vincent van Gogh, que cometeu suicídio em 1890, portanto, 15 anos antes do surgimento "oficial" do Expressionismo, também teve grande influência entre os pintores expressionistas.
Cinema

Baseado em Literatura policial, Cinema Noir tem como principais características detetives astutos, policiais inflexíveis, damas sensuais e vilões perversos, envolvidos em investigações e tramas conspiratórias. Outro elemento importante do Cinema Noir é a ambientação das tramas, que ocorre geralmente nas metrópoles americanas, envolvidas em uma atmosfera de sombras e mistério. Como nos filmes expressionistas, a fotografia em preto e branco ressalta este clima soturno.
A expressão Nouvelle Vague, criada pela escritora Françoise Giroud, surge na revista francesa L''Express em 1958, inicialmente, para designar um fenômeno contestatório dos movimentos artísticos. Porém, esta expressão viria fixar-se para definir o movimento cinematográfico francês que surge nesta mesma época.
Influenciada pelo neo-realismo italiano e por diretores norte-americanos como Alfred Hitchcock, John Ford e Howard Hawks, a Nouvelle Vague recria a linguagem cinematográfica e aborda essencialmente questões existencialistas, praticamente abandonando temas corriqueiros como política e sociedade. Ainda, traz como uma de suas propostas técnicas, a reação aos aspectos convencionais do cinema, principalmente, a narrativa. Nesse contexto, enquadram-se também obras de baixo orçamento com equipes reduzidas e filmagens em locais públicos.
Essas características influenciaram toda a cinematografia mundial, inclusive o cinema novo brasileiro. Jean-Luc Godard e François Truffaut são as maiores referências da Nouvelle Vague francesa. Algumas das principais obras da fase inicial da Nouvelle Vague são Acossado (de Godard), Os Incompreendidos e Jules et Jim, (François Truffaut), Hiroshima, Mon Amour (Resnais - 1959), Paris Nos Pertence (J. Rivette - 1960) e Trinta Anos Esta Noite (Louis Malle – 1963).
O sueco Ingmar Bergman também teve papel significativo. Entre seus filmes, destacam-se O Sétimo Selo (1956), onde um homem aposta sua vida jogando xadrez com a morte; Morangos Selvagens (1957), Persona (1966), Gritos e Sussurros (1972), e O Ovo da Serpente (1976), entre outros de intensa densidade dramática.
Impressionismo
O movimento impressionista, que buscava uma precisão maior nas cores e suas combinações, teve Renoir e Monet como suas principais referências na pintura. A música impressionista passa a descrever imagens e algumas obras trazem títulos como Reflexos na Água (Claude Debussy – França 1862 - 1918) baseada em estruturas modais do Oriente e do período medieval.
Dadaísmo
Em 1916, na cidade suíça de Zurique, surge o movimento vanguardista denominado Dadaísmo, que é compreendido por alguns como uma resposta das artes à 1ª Guerra Mundial. Caracterizado pela oposição a todo tipo de coerência e equilíbrio artístico, o dadaísmo abandonou os rigores acadêmicos e destacou a liberdade criativa através da arte abstrata. Seu slogan era: "A destruição também é criação".
Em 1916, na cidade suíça de Zurique, surge o movimento vanguardista denominado Dadaísmo, que é compreendido por alguns como uma resposta das artes à 1ª Guerra Mundial. Caracterizado pela oposição a todo tipo de coerência e equilíbrio artístico, o dadaísmo abandonou os rigores acadêmicos e destacou a liberdade criativa através da arte abstrata. Seu slogan era: "A destruição também é criação".
Até mesmo a palavra dada foi escolhida ao acaso para batizar o movimento. Hugo Ball e Tristan Tzara, dois dos fundadores do dadaísmo, escolheram, aleatoriamente, uma palavra num dicionário alemão-francês. Dada, que em francês significa "Cavalo de Pau" numa linguagem infantil (pré-lógica) era um termo suficientemente vago e desconexo; ou seja, o ideal para representar o "espírito dadaísta".
O dadaísmo desenvolveu-se principalmente na literatura e artes plásticas até aproximada- mente 1921. Mas suas bases foram essenciais no modernismo. Principalmente para o Surrealismo, que é derivado direto do dadaísmo.
Surrealismo
Em 1924, a publicação de Manifesto do Surrealismo, de André Breton (inspirado pelos conceitos psicanalíticos de expressão do Inconsciente), marcou oficialmente o surgimento do movimento. No surrealismo, a criação artística manifesta-se livremente de modo a criar uma realidade subjetiva. Temas como a fantasia, tristeza e melancolia também são abordadas no surrealismo.
Na década de 20 o Surrealismo desenvolve-se também no Cinema. Um cão Andaluz (1928) do espanhol Luis Buñuel escrito em parceria com Salvador Dali é considerado um manifesto do cinema surreal. Dois anos mais tarde, Buñuel produz A Idade do Ouro, outra referência do movimento. O Anjo Exterminador, A Bela da Tarde, O Discreto Charme da Burguesia e o Obscuro Objeto do Desejo, também são obras significativas de Bruñel. Em 1932, o francês Jean Cocteau produz Sangue de um poeta.
No cinema surrealista não há preocupações com enredos. Apenas as imagens expressam desejos irracionais através de metáforas visuais. Além do desprezo pela burguesia, convenções morais, religiosas e políticas.
Cabaret Culture
Oficialmente, a Cabaret Culture compreende o entre-guerras (1918-1939). Mas antes, os Cabarés já reuniam vanguardistas que filosofam sobre política e inovadoras tendências artísticas. A "cultura de cabaré" instaura movimentos que se denominam underground, alternativo ou contra-cultura pelos pensadores. As obras do escritor Bertold Brecht e do músico Kurt Weil (ambos alemães) são sólidas referências deste período. Enquanto o fascismo de Benito Mussolini e Stalin e o nazi-fascismo de Hitler impunham a tirania sobre a Europa.
Beatnick e suas composições
Aproximadamente a partir de 1950 surge a geração Beatnick, caracterizada por resgatar elementos dos primeiros anos do século XX, no período da "Geração Perdida", dos anos que intercalaram as duas grandes guerras. O existencialismo de Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger, enfatizando o indivíduo e a singularidade de suas experiências, é uma das bases "filosóficas" da geração Beatnick. A Cultura Beatnick também teve como influência o situacionismo, movimento artístico e sócio-cultural, que surgiu na Itália na segunda metade da década de 50 e estendeu-se fortemente até início dos anos 70, promovendo e incentivando uma revolução de conceitos nas artes, tendo até mesmo uma presença marcante no movimento parisiense Maio de 68. Apesar disso, os Beatnicks também buscavam uma espiritualidade transcendental e "não religiosa".

Dentro do beatnick americano surgiu Jack Kerouac, autor de On the Road (1957), livro emblemático dos beats americanos. Kerouac também teria sido quem cunhou a expressão Beatnick, que John Clellon Holmes consagraria no artigo This is the Beat Generation, de 1952. Allen Ginsberg é autor do poema The Howl (1956), obra considerada um dos marcos dessa cultura. Ginsberg também participaria das letras e shows do The Clash no início dos anos 80, além de participações com Paul McCartney e Elvin Jones, entre muitos outros. William Burroughs foi um dos beats mais atuantes com suas obras Naked Lunch e Junkie e influenciou as composições de David Bowie na década de 70.
O Jazz era o estilo mais consumido entre os beats, mas na década de 60 o Rock também é adotado como uma referência do movimento. Originalmente, a poesia beat era recitada com o apoio de músicos vanguardistas como os jazzistas, e posteriormente, com o Rock. Não apenas literariamente, mas também "filosoficamente", Rimbaud e Baudelaire eram grandes referências culturais para os beats (como no caso do poeta William Burroughs). A banda inglesa Manfred Mann popularizou o visual do movimento que, no decorrer dos anos, iria transformar-se num estereótipo consumível pelas massas.
"Eram instintivamente individualistas, mas nunca conseguiram manter o mundo fora dos seus sonhos". Esta frase do artigo This is the Beat Generation, sintetiza o movimento Beatnick, que foi um dos mais influentes da história recente e, de certa forma, antecessor dos hippies que surgiriam anos depois, influenciando também vários movimentos posteriores e, conseqüentemente, a subcultura gótica/darkwave.
Hippie, Glam e Punk – Intersecções até a Subcultura Gótica
A origem do termo Hippie está associada ao escritor Norman Mailer que definiu o existencialismo dos beats americanos como "Hipster" em 1957. Fatores políticos, econômicos e sociais fizeram dos hippies um grupo de estética multicolorida e comportamento politizado. Os estereótipos e a "filosofia" dos Beatnicks e dos Hippies são um tanto distintas. Mas há uma linha que une esses dois grupos. Naturalmente, a geração Beatnick adotou outras influências no decorrer dos anos, e em 1967 a cultura Beatnick dos Estados Unidos se diluiu em Hippie, Glam-Punk e Punk-Beat, sendo que estas duas últimas, são em grande parte o mesmo movimento.
Enquanto isso, o escritor canadense Leonard Cohen abandona sua vida literária e aventura-se na música. Seu álbum de estréia, Songs of Leonard Cohen, influenciaria artistas como The Sisters of Mercy e Nick Cave.
Paralelamente na Alemanha, em meados da década de 60, surgia do experimentalismo um estilo conhecido como Krautrock, baseado numa combinação psicodélica com improvisação do Jazz e sintetizadores que produziam uma sonoridade eletrônica, de classificação musical complexa, mas que expôs a Alemanha no cenário Pop/Rock europeu. Mais tarde, o Krautrock foi uma das principais influências das tendências da música eletrônica, como o Sith - Pop e EBM.
No início da década de 70, o Punk nova-iorquino, do Club CBGB, cultivava características comuns aos beats. Numa visita à cidade, Malcolm McLaren, dono de uma Sex Shop em Londres, resolveu levar a "ideologia" Punk para a Inglaterra e reuniu um grupo de adolescentes, freqüentadores de sua loja, criando o Sex Pistols. O "punk britânico", que emergiu para sociedade e a mídia entre 1976 e 1977, concebido por Malcom, era intencionalmente exagerado se comparado ao original, de Richard Hell e sua Blank Generation.
Ainda em 1970, surge o Glam-Rock e o Glam-Punk que influenciariam o Gótico do final desta década. Em Nova York, a banda The New York Dolls é a referência. Na Inglaterra, Marc Bolan, T-Rex e David Bowie tornam-se ícones desta tendência. Em 1974, David Bowie lança o álbum conceitual Diamond Dogs, que aborda o romance 1984 de George Orwell. Diamond Dogs foi definido pelo próprio Bowie como Gothic, em alusão a um espírito dramático e barroco do século XX. Bowie ainda produziu álbuns solos de Iggy Pop, ex–The Stooges, que influenciariam posteriormente, os vocais de Peter Murphy do Bauhaus. Em 1977 a banda Nova-Iorquina Suicide, lança seu primeiro álbum que mistura música eletrônica e punk obscuro.
Enquanto isso o Rock passa da fase "adolescente" e as bandas The Doors e The Velvet Underground surgem na cena em 1967. O prédio, conhecido com Factory, alugado pelo pintor Andy Warhol abriga vanguardistas de várias expressões e torna-se uma referência cultural e o principal reduto de criação do Velvet Underground. O vocalista e guitarrista da banda, Lou Reed, foi fortemente influenciado pelo amigo e "guru pessoal", Delmore Schwartz, escritor americano, chegando a dedicar várias músicas ao autor.
Quando Lou une-se ao músico erudito John Cale, sua pretensão é compor letras no estilo da Literatura Beatnick associada ao instrumental de Rock experimental. Patty Smith também traz referências semelhantes a partir de seu disco de estréia, Horses (1975). Enquanto isso, Jim Morrison, também influenciado pela prosa beat e William Blake, traça ao lado de Ray Manzareck uma trilha semelhante às intenções da dupla Lou Reed e John Cale. O experimentalismo musical e a forte presença da cultura beat são determinantes na subcultura glam/punk/krautrock que foi influência direta da cultura gótica/darkwave que se formaria a seguir.
Os módulos da subcultura gótica
Em 1972, o filme musical Cabaret, com Liza Minelli, com sua estética de cabaré e decadência berlinense do início da década de 30, influenciou em 1976 um grupo de Londrinos importantes: O Bromley Contingent, que incluía Siouxsie Sioux, Sue Catwoman, Debbie Juvenile, Philip Salon, John Richie (Sid Vicious), Berlin, Steve Severin e Billy Idol. A estética Cabaret é reciclada e chega ao Gótico.
No final da década de 70, o termo Gótico torna-se "sinônimo" de irracional, imaginativo, ou "que ousa penetrar nas trevas da mente e terrível condição humana", como havia sido usado na Inglaterra. Porém, até os primeiros anos de 1980, os termos Gótico/Goth e Positive-Punk são usados para descrever o mesmo movimento.
Esse período, ainda classificado como pós-punk, traz uma certa indefinição musical devido às diversas influências agregadas pelas bandas que surgiam. Outros ascendentes do Punk partiam para uma sonoridade mais experimental e foram classificadas como New Wave. Ainda nesse mesmo contexto, mas na Inglaterra, surge o New-Romantic e o No Wave. De 1979 a 1983, algumas bandas pós-punk seriam chamadas de Góticas, outras não. Posteriormente, bandas de outros estilos musicais também seriam chamadas de Góticas.
O movimento New-Romantic consistia numa versão mais suave e comercial da New Wave americana. A sonoridade trazia influências de Soul, Funk, Disco e Punk com sintetizadores e baterias eletrônicas. Depeche Mode, David Bowie e Duran Duran eram as maiores expressões do movimento, que contava ainda com o surgimento da MTV americana, que teve grande participação na divulgação dos clipes das bandas. Porém, o New-Romantic não possui uma relação direta como o Romantismo e suas releituras anteriores, mas também compõe parte da base cultural que estava se desenvolvendo.
Um pouco antes, com o uso de temas niilistas, timbres graves das guitarras e linhas de baixo, a No Wave utilizava-se também de microfonia e outros sons que interferissem na construção comum da música. Nesse momento, o Industrial também já estava se estruturando.
Ainda neste período, sob as novas perspectivas da Revolução Sexual e o impasse da Guerra Fria, além da música, o cinema também influenciava na moda e no comportamento. Foi neste período, aproximadamente 1979 a 1983, que a subcultura gótica/darkwave aglutinou elementos da Geração Beatnick, Punk, pós-Punk, Glam, New-Romantic e No Wave, entre outros. Esta combinação de tendências e a consolidação que viria a seguir ocorreram principalmente na Inglaterra. Mas no mesmo período bandas como Cristian Death, Misfits e TuxedoMoon já estão em atividade nos Estados Unidos.
Arquétipos no cinema 80/90
Em 1982, o filme Blade Runner (de Ridley Scott), que aborda o conflito entre seres humanos e andróides humanizados nas primeiras décadas do século XXI, reafirmou as tendências futuristas
de estilo e vestuário. No filme The Hunger (Fome de Viver) de 1983, David Bowie e Catherine Deneuve representam um casal de vampiros em busca de sangue. Há uma cena em que a dupla, usando Ankhs egípcios, está à espreita de suas presas numa casa noturna ao som de Bela Lugosi’s Dead, tocada pelo próprio Bauhaus. Há ainda o filme alemão produzido em 1987, Der Himmel ünder Berlin (de Win Wenders, lançado também com os títulos Wings of Desire ou Asas do Desejo), dois anjos perambulam pela Berlim dividida do pós-guerra, confortando a tristeza dos cidadãos, até que um dos anjos apaixona-se e deseja tornar-se humano.

Estes três filmes abrigam arquétipos que seriam reconhecidos, nos anos seguintes, como alguns dos elementos que comporiam a subcultura Gótica. Em Blade Runner, há a figura do andróide sensível, humanizado e conflitante num cenário urbano decadente. The Hunger inclui num mesmo contexto David Bowie (ícone do Glam da década 70), a banda Bauhaus (principalmente Peter Murphy) e a figura do Vampiro com a simbologia do Ankh, e aborda a questão da mortalidade humana. Em Asas do Desejo, há um conflito "razão x paixão" com abordagem decadente e existencialista dos anjos em meio aos cidadãos comuns.
Nos anos 90, a refilmagem de Drácula de Bram Stoker (1992), feita por Coppola se torna uma nova referência. Também em 1994, Entrevista com o Vampiro, o livro escrito em 1976 por Anne Rice se torna filme, retomando questões existenciais do molde de The Hunger, de 1983.
A consolidação
O termo Gothic, usado pela mídia e adotado por algumas bandas, prevalece a partir de 1983/84 e as bases da subcultura, tanto na música como no comportamento e visual, já estão concretizadas. O club londrino Batcave (Batcaverna) é inaugurado em 1982 e funciona como um catalisador das tendências emergentes. Na Batcave, além de Specimen, Bauhaus, Alien Sex Fiend e Siouxsie Sioux, reúnem-se personalidades como Nick Cave (The Bithday Party) e Robert Smith (The Cure). De Londres para a Alemanha, bandas como X-Mal Deutschland, Einsturzende Neubauten e Malaria são essenciais.
Nos anos seguintes, até o final da década de 80, a música da subcultura gótica/darkwave vê emergir novos artistas influenciados, principalmente, pelas bandas do período pós-Punk. Neste momento, The Sisters of Mercy, The Mission, Christian Death e outros, estabelecem "padrões" que seriam seguidos. Mas também surgem "sub-estilos" que ampliam a diversidade musical da cena. A sonoridade inclui influências do Pop e música eletrônica. Bandas que produzem estilos que seriam depois classificados como Darkwave e Ethereal, já estão em atividade, como Cocteau Twins (1980/81), Dead Can Dance (1981), Trisomie 21 (1982) e Opera Multi Steel (1983/84).
Entre Góticos assumidos e simpatizantes, alguns nomes incontornáveis do período 1979 a 1986 são: Bauhaus, UKDecay, The Damned, Siouxsie and The Banshees, The Cure, Echo and The Bunnymen, Soft Cell, Southern Death Cult, X-Mal, Einsturzende Neubauten, Malaria, Love and Rockets, Alien Sex Fiend, Sex Gang Children e Specimen. Ainda podemos citar, Joy Division, The Smiths, Nick Cave and The Bad Seeds, Virgin Prunes, The Fields Of Nephillin, The Jesus and Mary Chain, Cabaret Voltaire, Cocteau Twins, Trisomie 21, Opera Multi Steel, Clan of Xymox, Poesie Noire, e inúmeros outros, sem aqui nos aprofundarmos nas importantes tendências, Industrial, Sinth e EBM, ligadas a esta cena.
No Brasil
No Brasil, a subcultura gótica desenvolveu-se fora do contexto original. A ditadura brasileira que se estendeu por mais de vinte anos (1964 a 1985), condicionou grande parte da produção artística e assim, indiretamente, costumes e comportamento social. Por este motivo, elementos essenciais como o Glam, não tiveram uma repercussão tão grande e nítida como na Inglaterra, por exemplo, e o Punk chegou em outro contexto.
Nas grandes metrópoles brasileiras, até mesmo o termo gótico chegou com um certo atraso, passando a ser aplicado a partir de 1985/86, se popularizando progressivamente até substituir o termo Dark (até 1989/90), que era até este momento usado apenas no Brasil (em outro sentido, na Itália, como "angolo dark" ou "dark inglês").

Atualmente, o conceito brasileiro do que significa gótico, quando aplicado à subcultura, é muito amplo. Alguns consideraram gótico, boa parte do que foi produzido (musicalmente) a partir de meados da década de 80. Ainda, a cena gótica brasileira não possui tanta organização como na Europa e Estados Unidos. Mas a música traz representantes importantes como as bandas Elegia e The Tears of Blood, entre muitas outras.
A partir da década de 90
Nos anos 90 podemos citar como referências musicais do Gótico e Darkwave, bandas como London After Midnight, Switchblade Symphony, Faith and Muse, Das Ich, Sopor Aeternus, Inkubus Sukubbus, Bella Morte, Nosferatu, Cranes, Diary of Dreams, Cruxshadows, Lycia, Wolfsheim, Clan of Xymox, Project Pitchfork, Love Spirals Downwards, entre tantas outras.
Na passagem para o século XXI esta geração dos anos 90 já é acompanhada por uma nova safra de bandas como The Vanishing, The Ghost of Lemora, Collide, Diva Destruction, Voltaire, Audra, Qntal, Cinema Strange, BlutEngel, 69 Eyes, The Last Days of Jesus, Diorama, Chants of Maldoror, Hatesex, Android Lust, Ego Likeness, Paralised Age, Thou Shalt Not, In Strict Confi- dence, Eisbrecher, citando apenas algumas bandas em estilos distintos da subcultura gótica, pois a lista é muito maior.
Ainda, subgêneros musicais como o Trip-Goth e Dark Ambient, estão emergindo e se transformando. A cena da subcultura gótica/darkwave já conta com clubes (casas noturnas), eventos, uma intensa produção cultural (não apenas musical) e a interação dos seus adeptos, que é uma de suas molas propulsoras.
Atualmente, percebe-se que a subcultura gótica não apenas se estabilizou em sólidas bases culturais, mas também continua sendo cultivada, ampliando-se em todas as partes do mundo. Há um verdadeiro circuito cultural que não se baseia apenas na música e no comportamento, mas em todas as outras expressões artísticas que cada gótico possa criar, recriar e renovar.
GLOSSÁRIO DE ESTILOS MUSICAIS RELACIONADOS COM O GÓTICO E DARKWAVE
Na árvore genealógica que ilustra este artigo, há alguns rótulos não oficiais, usados apenas para organizar uma listagem on-line. O foco desta árvore é a formação dos estilos gothic/ darkwave/pós-punk e "parentes" mais próximos. Obviamente, se o foco fosse a formação de outros estilos, estes estariam no centro e mais detalhados.
Abaixo, comentamos, alguns mais longamente que outros, os seguintes rótulos/estilos:
01 - Glam Rock
02 - Krautrock
03 - ColdWave
04 - New Wave e French New Wave
Neue Deutsche Welle
05 - Pós-Punk
06 - Industrial
07 - E.B.M.
08 - Darkwave
09 - Gothic e Gothic-Rock
10 - New Romantic
11 - Death-Rock e Horror-Punk
12 - Ethereal e Ethno
13 - Medieval
14 - Trip-Hop e Trip-Goth
15 – Synth-Pop
16 – Futurepop
Notas:
CBGC
Importante clube noturno de NY na década de 70. Costuma-se chamar geração CBGC de 1975 as bandas proto-punks (proto-pós-punks na opinião de alguns) que tocavam nos palcos desta casa neste ano: Talking Heads, Patty Smith Group, Television, Blondie, Richard Hell and The Voidoids, Ramones e muitos outros que foram precursores do que poucos anos depois seria chamado de Punk, Pós-Punk e New-Wave.
Geração 68
1968 foi um ano que a juventude do mundo ocidental saiu as ruas em busca de mudanças culturais. Isso refletiu na criatividade musical deste período. De 1967 a 1970 se tornam conhecidos vários artistas que influenciaram diretamente o que posteriormente foi chamado de Gótico, Pós-Punk e Darkwave: Iggy Pop & The Stooges, The Doors, Velvet Underground, Nico, John Cale, David Bowie e Leonard Cohen, ente outros.
1 - Glam Rock
Tecnicamente, o Glam Rock existiu de 1970 a 1975. Mas sua influência pode ser notada até hoje. O estilo se caracteriza por uma temática Hedonista-Decadentista, Androginia, um Rock básico ou recheado de experimentalismo, muitas vezes considerado Proto-Punk, mas também havia lugar para muito lirismo, folk, cabaret e poesia. Exemplos: T-Rex, New York Dolls, Iggy Pop & Stooges, David Bowie, Lou Reed, Roxy Music, Sweet, Slade, Gary Gltter.
O Glam-Rock influenciou diretamente o Pós-Punk e o Gótico, tanto na musicalidade como em sua temática e abordagem, sendo que muitas das primeiras bandas góticas pareciam e soavam muito como bandas Glam (Bauhaus e Specimen).
2 - Krautrock
Krautrock é o nome que se dá ao experimentalismo no Rock alemão de aproximadamente 1969 a 1977. Este experimentalismo mistura Rock, Psicodelia, música experimental eletrônica, minima- lismo, proto-industrial, e música erudita moderna experimental, jazz e todo o mais que se possa imaginar. O movimento influenciou tanto a música Industrial, como as tendências eletrônicas, assim como as varias tendências pós-punk e new wave, além do synth e EBM.
Exemplos: Throbbing Gristle (considerada a primeira banda Industrial), Kraftwerk (que influen- ciou quase tudo que se conhece em termos de música eletrônica), Can, Neue, Tangerine Dream, Faust, etc.
3 - Coldwave
O termo "cold wave" foi criado para definir uma linha musical eletrônica, levemente dançante e minimalista que tinha teclados frios (ta aí o porquê do nome), densos e batida arrastada/marcada. Podemos citar Gary Numan como sendo o pai dessa corrente, seguido de John Foxx (Ultravox).
A coldwave ganhou um aliado mais "rock" que vinha do norte da Inglaterra: Joy Division que por sua vez inspirou dezenas de bandas entre elas o Crispy Ambulance, Danse Society, The Wake (UK – não tem relação com o selo americano Cleópatra), The Names (Bélgica), Fra Lippo Lippi (Noruega – apenas em seu primeiro álbum).
Já na França o termo coldwave também serve para se referir a qualquer banda que faça parte de sua cena obscura (Kas Product, Trisomie 21, OpeRa Multi Steel, Norma Loy, Guerre Froide, Little Nemo, Baroque Bordello) seja ela mais "death rock" ou mais etérea. Isso pode ser comprovado em um recente livro que fala da cena européia com o título de Generation Extríme - 1975-1982, du punk a la cold wave, de Frederic Thebault. A cena francesa foi realmente uma cena de dar gosto e tardiamente e postumamente seus talentos vêm recebendo os créditos.
Tirando seu lado meio "progressivo", sem dúvida que o Krautrock influenciou o povo da coldwave, assim como diversas tendências eletrônicas e minimalistas surgidas na metade dos anos 70. Sem contar que foi fundamental para algumas criações de Brian Eno; o mestre que moldou o som de David Bowie em sua "fase alemã".
(Por Heltir)
A trilogia formada pelos discos Low, Lodge e Heroes reflete muito bem os sentimentos esquisitos da Berlim daquela época. No final dos anos 70, suas ruas ainda viviam atormentadas pelos estilhaços da Guerra Fria (cujo fracasso de ambos os lados se refletia no descrédito de resultados da Corrida Espacial e de eternas ameaças nucleares) e da cortina de ferro instalada pelos regimes comunistas na Europa Oriental.
Havia ainda o muro da vergonha, que dividia a cidade em duas e isolava a parte oeste de toda a Alemanha Oriental ao redor. A falta de perspectivas e o isolamento "entre quatro paredes" fizeram a dupla Bowie/Eno criar – sobretudo em Low – texturas sonoras que eram descritas como "um deserto futurista congelado por sintetizadores". Nascia ali o embrião do gênero que viria a ser conhecido por coldwave ou a facção mais fria, robótica e apocalíptica do pós-punk. Não por acaso, o Joy Division tiraria seu primeiro batismo (Warsaw) de faixa de abertura do lado B de Low.
(Por Abonico R. Smith)
Além de Gary Numan e Ultravoxx, também Cabaret Voltaire, a "fase Faith" do The Cure, Kraftwerk, Cocteau Twins e Dead Can Dance, e algumas fases de Siouxsie and The Banshees também são citados como Coldwave. Mais tarde o termo Darkwave é aplicado à algumas tendências influenciadas por esta estética.
(Por Kipper)
4 - New-Wave e French-New Wave
Um dos rótulos mais incompreendidos que existe é New-Wave, também porque o rótulo acaba se tornando abrangente demais. A grosso modo, quando o rótulo Punk se esgotou em 1977, as coisas mais "normais" eram chamadas de New-Wave, e as mais "alternativas ou experimentais" de Pós-Punk. Pra complicar, algumas bandas dos dois grupos eram encaixadas também como Góticas.
A versão mais reproduzida sobre a origem do nome é que ele vem de French-New-Wave, um movimento de renovação do Cinema Francês da década de 60, representados por cineastas como Jean Luck Godard, François Truffaut, etc. Esse movimento é chamado em francês de Nouvelle Vague (nova onda). Os filmes costumam ser sombrios, existencialistas, mas irônicos, usando de muito simbolismo e abordando a alienação social e psicológica do indivíduo.
Na música pop, no final anos 70 para o começo dos 80, o New-Wave começou a ser usado para designar as bandas que haviam começado em 1974/75 como Punk, mas depois seguiram um caminho experimental variado e temáticas e abordagens às vezes semelhantes ao movimento de cinema citado acima. Exemplos: Talking Heads, Patty Smith, Television e outros da cena de Nova York. Na Inglaterra, bandas como The Cure e Siouxsie and The Banshees eram consideradas tanto New-Wave como Pós-Punk e Góticas. Ao mesmo tempo em que bandas como Soft-Cell e Devo e outras ligadas ao Synth-pop e minimalismo musical.
O movimento New-Wave, depois permaneceu, porém de forma alguma se resumia à "um povo com roupa colorida que dançava para os sintetizadores". Temos ainda a versão francesa do Movimento musical New-Wave, a French-New-Wave (algumas bandas sendo chamadas também de Coldwave). Parte destas bandas influenciou o que depois chamaríamos, no começo dos anos 90, de Darkwave. Então, às vezes, o rótulo Darkwave é usado retroativamente para classificar estas bandas. Exemplos: Kas Product, Opera Multi Steel, Trisomie 21, Collection D'Arnell Andrea.
Evidentemente estas bandas acima tiveram influências como Cocteau Twins e outros experimentos que também influenciaram toda a música dos anos 80. Pelo caminho da música erudita experimental, entram tanto a eletrônica como sonoridades folk e tribais.
Neue Deutsche Welle (NDW)
Na Alemanha temos a Neue Deutsch Welle (NDW - Nova onda Alemã - German New-Wave), que possuia um lado mais experimental, e outro mais comercial. Do lado mais experimental é comum listar bandas que encontramos também catalogadas como Industrial ou Góticas: Malaria, X-Mal Deutschland, Einsturzende Neubauten, etc. Do lado mais comercial: Falco, Trio, Spyder Murphy Gang, Nena, etc.
Definitivamente, uma música de temáticas "Noir", mas com abordagem pós-punk usada com elementos eletrônicos.
Obs: Assim, considerando todas as variantes do uso desses rótulos, fica mais fácil entender a mistura desde os anos 80 entre o público e som Gótico, Darkwave e New-Wave nas casas noturnas paulistanas chamadas de "góticas".
5 - Pós-Punk e No-Wave
Não vamos entrar em detalhes da história do Positive Punk aqui. Do ponto de vista do Gótico, basta saber que de 1979 a 1983, entre as muitas bandas consideradas Pós-Punk e Positive-Punk, algumas eram ao mesmo tempo chamadas de Góticas. Das bandas Pós-Punk, algumas eram chamadas de Coldwave em alguns países. Mas o termo Coldwave é bem menos difundido que os demais.
Na cena que seria chamada de Gótica, os rótulos competiram, até que de 1983 para 1984 o termo Gótico se fixa totalmente, ao mesmo tempo que as características e conceitos do que seria chamado de Gótico, a partir deste ponto, também se estabilizam e se fixam.
O Pós-Punk definia um leque grande de estilos, com base comum nos princípios do minimalismo, experimentalismo e outros comuns ao punk, o glam-rock, new-wave, NDW, Industrial, synth e o punk-glam. A abordagem era diferente do punk: mais introspectiva, onírica, sensível e irônica mas sem perder a ironia e o humor-negro. A temáticas eram variadas, usando de todo repertório Pop como metáfora para comentar questões cotidianas.
Exemplos de Bandas consideradas tanto Góticas como Pós-Punk: Bauhaus, Alien Sex Fiend, The Damned, Sex Gang Children, Malaria, The Cure, X-Mal Deutschland, Siouxsie and The Banshees, Birthday Party, Nick Cave, Specimen, Joy Division, etc.
Resumindo, podemos dizer que a partir de 1983 o termo Gothic se fixa, sendo aplicado também retroativamente. Outros rótulos se fixam e são aplicados retroativamente também. No-Wave é mais ou menos o Pós-Punk Norte Americano de NYC. Bandas: DNA, Mars, Lydia Lunch.
6 - Industrial
O termo Industrial teria sido sugerido pelo músico e performer Monte Cazazza: "música industrial para pessoas industriais". A idéia era uma "não-música" que satirizasse o mundo industrializado. Influenciados por experiências feitas na música erudita experimental ao longo do século XX, um dos resultados foi o Industrial que surgiu em meados dos anos 70, sendo a banda Throbbing Gristle considerada uma de suas criadoras (ao lado de Monte Cazazza). Industrial constituía em buscar fazer algo musical sem melodia ou mesmo sem instrumentos, usando de objetos cotidianos e/ou industrializados. As sonoridades podiam tanto ser extremamente delicadas como totalmente perturbadoras e agressivas.
Em 1980, surge um dos ícones do industrial, a banda alemã Einsturzende Neubauten. Com o tempo, bandas vão mesclando o estilo com outros, e surge o Industrial-Rock, como o caso da banda Nine Inch Nails, que ainda guarda bastante ligação com o estilo original.
Mais recentemente, ao longo dos anos 90, se popularizou um estilo chamado Industrial, com muitos elementos de Metal, mas que não tem mais quase nada da experimentação do Industrial original. Mas ainda podemos encontrar bandas que fazem hoje um som Industrial mais tradicional.
Outras bandas básicas do estilo original, também importantes para EBM e Synth: Cabaret Voltaire e Clock DVA. Originalmente Influenciados pela música experimental de eruditos como Stockenhausen, hoje é difícil imaginar, mas as raízes do experimentalismo do Industrial influenciaram também as inovações do Rap e do Hip-Hop original. Quando em 1982 África Banbaata "sampleia" o Kraftwerk e inventa o Electro, (em Planet Rock) é apenas o círculo da história que se fecha.
7 - E.B.M. (Eletronic Body Music)
A EBM é outro dos estilos surgidos do experimentalismo eletrônico dos anos 70, guardando sempre grande intercâmbio com o Industrial e gerando subgêneros. O maior ícone é a banda Front 242. Outras são Nitzer Ebb, Klinik, Neon Judgement, Skynny Puppy, Front Line Assembly, Leather Strip, Wumpscut, Hocico, etc. Muitas bandas são classificadas também como Industrial.
(Por Kipper)
Atualmente, costuma-se chamar a EBM "antiga" por "Old-School" EBM pela diferença que há entre sons mais antigos e novos. Difícil dizer com precisão quando termina a EBM old-school cronologicamente; mas a grosso modo, isto compreende um período que começa em 1982 (embora algumas bandas sejam anteriores a essa data), com o lançamento de um dos primeiros cd’s da banda Front 242 (Geography). Sonoricamente, a E.B.M antiga é bem mais semelhante à música industrial da época do que a atual (com o tempo o som foi evoluindo sofrendo influências de vários outros gêneros).
Bandas conhecidas de EBM antigo, entre outras: Front 242, Die Krupps, Nitzer Ebb, A split a second, The Neon Judgement, entre outras. EBM "Old-School" é mais usado como um termo musical, pois ainda existem bandas que fazem tal som, conservando aspectos mais, digamos assim, "puros", dos primeiros dias da Eletronic Body Music. No começo dos anos 90, algumas bandas de EBM começaram a "puxar" elementos do synthpop, fazendo um som mais pop, mais fácil de se ouvir e de se vender também: o Futurepop.
Existe o que algumas pessoas chamam de Harsh EBM (ou Terror EBM, Agrotech). Isso denomina uma variante da EBM que surge no começo dos anos 90, mas não se populariza até a metade dele. Harsh EBM, como o nome já diz, é a variante pesada da EBM nos dias atuais, batidas distorcidas, sintetizadores ácidos e vocais as fora de melodia, agressivos e também, claro, distorcidos; com letras pesadas e não muito otimistas que fazem uma melodia (ou não) bem caótica. As principais bandas desse gênero são: Suicide Commando, Unter Null, Grendel, Waldgeist, Tactical Sekt.
(Por Daniel Calvo)
8 - Darkwave
Este é um dos rótulos mais controversos. Existem pelo menos três significados mais difundidos para Darkwave:
a) No começo dos anos 90 a gravadora norte-americana Projekt começou a usar o termo DarkWave para definir seu catálogo. Como esse catálogo incluía muitas bandas similares à Cocteau Twins, Dead Can Dance, Industrial clássico e sonoridades Ethereal, estes estilos passaram a ser chamados também de Darkwave. Por extensão, passou-se a chamar de Darkwave retroativamente a bandas dos anos 80 que tinham estilo semelhante e que na verdade influenciaram a Darkwave dos anos 90. Exemplos são bandas francesas como Opera Multi Steel, Collection D’arnel Andrea e as duas bandas Inglesas já citadas. Bandas que começaram fazendo uma New-Wave mais alternativa passaram a ser incluídas neste rótulo. Muitas bandas do estilo Ethereal também entram nessa classificação: Black Tape for a Blue Girl, Love Spirals Downsward, Lycia, Bel Am. etc, reclassificadas retroativamente: Cocteau Twins, Dead Can Dance, Dali’s Car, Opera Multi Steel, etc.
b) Em razão de bandas como Cocteau Twins terem sido lançadas pelo mesmo selo que Bauhaus, (4ad) e a pesquisa sonora e influências guardarem ligações com o que se fazia no Pós-Punk/Gótico (além de ter origens comuns), também acabou-se por usar o termo Darkwave para todo o Gótico que não fosse muito "Rock". Algo como uma "New-Wave mais obscura". (Sempre lembrando que New-Wave não se resume a "surf-rock colorido").
Assim, em alguns casos, Darkwave é usada quase como sinônimo de Gothic. Além disso, bandas como The Cure (principalmente de 81 a 83.) e Cocteau Twins, só para dar dois exemplos, na mesma época trabalhavam com sonoridades muito próximas e "ethéreis" (góticas na opinião de alguns).
c) Darkwave foi também o rótulo utilizado para bandas eletrônicas alemãs do começo da década de 90, mesmo que depois elas tenham enveredado por estilos que hoje recebem outras classificações. Exemplos: Project Pitchfork e Das Ich, no início das suas carreiras.
Esses três sentidos às vezes se complementam, às vezes se confundem. No sentido C, mas também nos A e B, o estilo acentua suas bases eletrônicas: Exemplos: Wolfsheim, Poesie Noire, Diorama, Diary of Dreams, etc.
9 - Gothic e Gothic-Rock
O Goth/Gothic se tornou muito mais que um gênero musical: uma subcultura e um estilo de vida que acabam caracterizando até outros gêneros musicais (desde que estes não sejam esteticamente – musical e liricamente - incoerentes com o que significa, no nosso contexto, Gótico).
Os primeiros usos "oficiais" do adjetivo Gothic foram ao final da década de 70 para bandas como Bauhaus, Joy Division e Siouxsie and The Banshees, que eram também chamadas de pós-punk. Mas as influências destas bandas não se resumiam ao punk. Aqui, bandas que depois seriam chamadas de Death-Rock ainda eram chamadas de Gothic-Rock ou Pós-Punk. Na verdade, a fronteira entre o Gothic-Rock e o Death-Rock é nebulosa, acontecendo uma "retro-influência". Exemplos: Alien Sex Fiend, The Sisters of Mercy, Love Like Blood, Siouxsie and The Banshees, Killing Joke, Inkubus Sukubus, Nosferatu, London After Midnight, The Ghost of Lemora, Paralysed Age, Audra, etc.
O Gótico continuou seu desenvolvimento ao longo dos anos 90 e no século 21, desenvolvendo cenas em todas as latitudes e longitudes. Bandas de estilos musicais não tipicamente rock também são consideradas Goth. Por isso elas podem também ser encontradas nos demais itens deste glossário.
10 - New Romantic
No começo dos anos 80, o estilo New-Romantic conviveu e influenciou muitas bandas chamadas Góticas, sendo que características do New-Romantic foram incorporadas a estética gótica.
O New-Romantic se caracterizava por uma espécie de "ultra-individualismo dandi", expressado por roupas super "chiques" (mas geralmente modernas) e por uma música hedonista e dançante. Os ícones eram David Bowie e Duran Duran. (Lembram do visual e do som destes dois no começo dos 80’s? Esta era a estética e música New Romantic).
11 - Death-Rock e Horror-Punk
O termo Death-Rock surge nos Estados Unidos aproximadamente em 1981 com a banda Christian Death. Depois, quando o termo Goth se firma na Inglaterra, (de 1982 a 1983, aproximadamente) Death-Rock passa a ser usado também lá para as bandas "Pós-punk/Góticas" mais "Punk-Góticas". Enfim, os góticos tendem a considerar a maioria delas, góticas também.
O Death-Rock pode ser visto tanto como uma cena à parte ou como uma parte do Gótico. Historicamente, seria o lado, do Gótico mais ligado ao Punk-Rock, e mais escrachado e irônico, decadente, circense e ligado a um clima de cabaré modernista (não que estas referências não estejam no Gótico em geral, mas no Death-Rock elas são muitas vezes exageradas e levadas ao extremo). Mas sem perder um certo tom existencial ou niilista.
Exemplos: Alien Sex Fiend, Sex Gang Children, Cristian Death, Cinema Strange, The Last Days of Jesus, Zombina and The Skeletones, Tragic Black, etc. Dentro do Death-Rock existem subdivisões e outras variantes que se aproximam mais do Gótico, se tornando difícil distinguir, ou, por outro lado, se afastam do Gótico, chegando até a um punk-hardcore de temática de Horror.
Entre elas está o "Horror-Punk", que seria o Death-Rock que se aproxima de uma sonoridade e atitude mais Hard-Core/Punk, e com temáticas que vão ainda mais radicalmente no "Horror-Cinema B". Exemplo: Misfits.
12 - Ethereal e Ethno
Nas subdivisões da Darkwave, temos o Ethereal, conhecido por suas melodias lentas e delicadas, e seu clima onírico. Pode ter base eletrônica ou acústica, se confundindo com o Ethno, se explorar ritmos ou melodias "Ethnicas", ou seja, músicas tradicionais de outras culturas (não-européias) ou folclóricas (européias).
Mas é importante lembrar que o Ethereal não é simplesmente música folclórica. De qualquer forma, ambos os estilos são dançantes. Influenciado pelas pesquisas de música erudita experimental do século XX, e seus resultados, como o Synth-Pop, Trip-Hop, Darkwave etc, Daí sua mistura de experimentalismo eletrônico e elementos Folk ou tribais. Exemplos: Cocteau Twins, Dead Can Dance, Lycia, Theodor Bastard, Bel Am, Collection D’Arnell Andrea, QNTAL, Love Spirals Downward, Kirlian Kamera, Attrition, This Ascension, Black Tape for a Blue Girl, etc.
Muitas bandas deste estilo são classificadas também, em outros contextos, como Medieval, World Music, New Age ou Dark-Ambient.
13 - Medieval
Algumas bandas Darkwave aprofundaram sua pesquisa de ritmos tribais e folclóricos do mundo inteiro, ou de música européia pré-clássica, (várias fases da música medieval) sem, todavia, deixar de lado a abordagem moderna e as bases ou experimentalismos eletrônicos.
Exemplos: QNTAL, Mediaeval Baebes, Estampie, Corvus Corax, Ataraxia, Arcana, Helium Vola, etc. Algumas bandas buscam fazer um som medieval "autêntico", enquanto outras buscam um som "para festas", dançante. Algumas são classificadas também como Darkwave ou Ethereal.
14 – Trip-Hop e Trip-Goth
A data "oficial" de batismo do Trip-Hop é 1995, quando jornalistas precisavam de um novo termo para nomear toda uma corrente de música eletrônica/pop experimental, especialmente a cena local das cidades Bristol e Portishead na Inglaterra.
1994 é o ano do emblemático álbum Dummy do Portishead, que traz todos os elementos básicos do estilo de forma bastante clara. Mas mesmo sem nome, o estilo está entre nós na virada para os anos 90. Por que o nome "Trip-Hop"?
A parte Hop vem de Hip-Hop, pois a maioria dos ritmos experimentais deste gênero tinha como base, alterações ou quebras no hip-hop (claro que há outras influências). A parte Trip vem do termo viajar (trip, em inglês) devido a forte influência de sons "viajantes" do Jazz experimental, Jazz-swing e Darkwave (às vezes, Ethereal). Outra influência é a de trilhas sonoras de filmes, especialmente os de base jazzística antigas.
15 - Synth-Pop
No final dos anos 60, as primeiras músicas feitas com sintetizadores começaram a ser lançadas. As experiências em música eletrônica, que estavam apenas na música erudita, começam a aparecer na música Pop. Por isso muitos dos primeiros a produzir música sintética eram indivíduos com formação erudita.
O experimentalismo eletrônico se espalha e se mistura com o Jazz e o Rock, como no caso do Krautrock (ver item 1). O uso de elementos eletrônicos minimalistas também foi elemento de constituição da Cold Wave (parte mais "robótica" do pós-punk), da New Wave e praticamente todos os estilos eletrônicos posteriores, como a EBM, DarkEletro, Eletro-Goth, Futurepop e outros.
(Por Kipper)
Uma das principais bandas que fizeram influência no Synth-pop antigo, foi Kraftwerk (1970), quando tocavam uma música algumas vezes desarmoniosa, porem inovativa, baseada em sintetizadores.
No fim dos 70's muitos artistas relacionados com esses meios apareceram, principalmente na Inglaterra, que usavam o sintetizador como seu instrumento principal. Entre eles: Ultravox, OMD, Gary Numan, e Human League.
(Por Daniel Calvo)
16 - Futurepop
Futurepop é um gênero recente (a partir de 1990). É uma subdivisão da EBM influenciada principalmente pelo Synth-pop e outros gêneros (techno, electro-goth, darkwave). Bandas de Futurepop são bandas de EBM que em tempos recentes começaram a fazer um som mais "pop". Comumente vê-se pessoas chamando futurepop de EBM, o que, realmente, não deixa de ser.
Em relação aos sintetizadores, existe uma notável influência do trance e do techno, nos vocais também (vocal quase sempre limpo, destacado e alto em relação à música em geral). O Termo futurepop foi usado pela primeira vez por Ronan Harris (VNV Nation) e Stephan Groth (Apoptygma Berzerk) tentando descrever melhor o som que faziam, que não se encaixava "perfeitamente" nas categorias já existentes.
Depois do gênero ter sido citado pela primeira vez, várias bandas começaram a compor sobre o gênero Futurepop. Algumas bandas relativamente conhecidas de Futurepop são: Icon of Coil, Apoptygma Berzerk, Covenant (recentemente), VNV Nation, Fortification 55, Assemblage 23, Funker Vogt e Melotron (algumas músicas). Algumas bandas de EBM pesado também possuem uma certa pitada de trance em suas músicas (Grendel, Suicide Commando no último cd).
SIMBOLOS RECORRENTES NA SUBCULTURA GÓTICA
Eu vejo o industrial e o gótico como dois lados da mesma moeda - o yin e o yang - o masculino e o feminino, escreve Alicia Porter em sua pesquisa Study of Gothic Subculture,(...) O gótico expressa o emocional, a beleza, o sobrenatural, o feminino, o poético, o teatral;...
Goth Chic - Gavin Baddeley (2003)
Por que nos atraímos inicialmente por uma subcultura com características X, Y ou Z, e não por uma subcultura com características A, B ou C? Isso acontece pois algumas características nossas que não encontravam um modelo de expressão e identificação em outros lugares acabaram por encontrá-lo na subcultura Gótica e em sua Estética, Cena e História.
A identificação inicial é sempre Intuitiva e Estética: como uma paixão. Porém, se o indivíduo em questão nunca entrar em contato com a subcultura Gótica esta identificação se torna impossível.
Mas quais seriam estas características que nos atraem na subcultura Gótica? Podemos dizer que a subcultura Gótica vem exatamente suprir deficiências da cultura oficial industrial do ocidente. Por isso muitas vezes elabora características opostas a ela.
A cultura oficial nos dita comportamentos despersonalizados, impede a individualidade, nega a morte enquanto experiência vital, e é apolínea, mecanicista, positivista e predominantemente "Yang" (masculino como referência de humano).
Nela não há mais espaço para aquele Individualismo que o Oscar Wilde define no seu livro A alma do homem sob o socialismo. Assim, buscamos "espaço" ou "algo que nos falta" em alguma subcultura.
Podemos dizer que outro elemento que caracteriza o Gótico é um caráter compensatório Ying, pois a sociedade oficial é hoje predominantemente Yang. Assim, buscamos um equilíbrio ou compensação.
Podemos observar o caráter Ying de todo sistema estético e simbólico do Gótico (e também em grande parte da Darkwave). O conjunto destes símbolos é repetido em grande quantidade e freqüência em letras, músicas, roupas, imagens, comportamentos, discursos, etc ligados a subcultura gótica:
- Lua
- Prata
- Água/Mar
- Noite
- Outono e inverno
- Sensualidade
- Mistério
- Decadência
- Expressionismo
- Feminilidade (no caso das mulheres) e Anima (parte feminina no homem)
- Onírico
- Surrealismo
- Dionisíaco
- Intuição
- Androginia
- Drama
- Anti-racionalismo
- Expressão da Emotividade
- Lirismo
- Serpente
- Vampiro
- Bruxa, feiticeira, magia
- Ennui, spleen
- Horror com humor
- Obscuridade
- Paixão
- Anjos caídos
- Urbanidade problemática/ cidades vazias
- Romantismo
- Seasonal, cíclico
- Hedonismo
Claro que nenhum Gótico ou obra de arte da subcultura Gótica possui todos estes elementos no grau máximo, nem isso é necessário, pois como verificamos em qualquer sistema cultural (como o brasileiro ou nordestino, por exemplo) ou subcultural, nenhum indivíduo ou obra possui a totalidade do sistema, mas ambos fazem parte do sistema simbólico, se relacionando e se ligando a outros elementos e símbolos que aumentam o sentido do conjunto e formam um tipo de "ambiente".
Assim, algumas pessoas desenvolvem mais alguns elementos do que outros. Isso que nos faz permanecer indivíduos mesmo dentro de uma subcultura. Depois, em um segundo momento, começamos a compreender o significado da atração que estes símbolos estéticos e esses sentimentos exercem sobre nós.
Isso nos faz entender e nos interessarmos também pela história e teoria da subcultura Gótica. Sem deixar de senti-las. Sentir e saber não são coisas excludentes, é falso o dualismo que opõe sentimento e conhecimento.
Mas isso é um processo que se dá com a vivência na subcultura. Pois o aprendizado é um processo afetivo de sucessivos ciclos de aproximações e estagnações ao longo do tempo.
Afinal, Cultura sem sentimento é Erudição estéril, e Sentimento sem Cultura, cai no lugar comum.
FACTOS E MITOS
Nos últimos tempos, a subcultura gótica e a cultura obscura ganharam destaque na sociedade através da grande quantidade de informações transmitidas por diversos canais, principalmente a Internet. Este fato criou uma densa camada de mitos e confusões que envolvem os góticos e os obscuros.
Não há um estatuto que defina a personalidade de um adepto da Cultura Obscura. Não há mandamentos a serem seguidos. Há apenas, um conjunto de características. Embora nem sempre, seja comum a todos os adeptos.
O objetivo deste texto é um esclarecimento definitivo em relação à Cultura Obscura, de modo a dissociá-la da subcultura gótica. É necessário expor a face da Cultura Obscura real que abriga sólidas manifestações artísticas e sociais, e não é movida pelos modismos fúteis e consumistas de nossa sociedade. Assim, façamos alguns esclarecimentos:
- Os adeptos da Cultura Obscura possuem uma percepção artística diferenciada. Isto lhes permite contemplar situações pouco comuns para as outras pessoas.
- Esta percepção é natural à sua personalidade e é desenvolvida, muitas vezes inconscientemente, ao longo de sua vida. Num determinado momento, descobre-se a Cultura Obscura e ocorre uma identificação imediata.
- Freqüentam cemitérios para ler, ouvir música ou apenas refletir sobre a própria existência, aproveitando o aspecto de paz e tranqüilidade e a arte das esculturas tumulares, por exemplo. É falso o conceito de que vão ao cemitério para roubar, destruir ou praticar rituais.
- Possuem uma personalidade introspectiva. Não são depressivos, pessimistas ou agressivos.
- Tristeza e melancolia não são sentimentos negativos. São apenas estados de espírito dos quais, muitas vezes, são fontes de inspiração.
- São pessoas que valorizam a arte e a intelectualidade. Muitos, por exemplo, estudam e pesquisam sobre História, Literatura, Cinema, Música, Sociologia etc.
- Na Cultura Obscura, não há uma religião específica a ser seguida. Geralmente, se interessam por temas ocultistas, mas podem ser Católicos, Evangélicos, Neopagãos etc. Podem seguir uma crença pessoal ou até mesmo serem Ateus. É falso o conceito de que todos são satanistas ou anticristãos.
- Não há uma ideologia política específica. Aliás, é raro encontrar alguma citação política entre os adeptos. Normalmente só há o conceito de contra-movimento social.
- Não se vestem exclusivamente com roupas pretas e nem todos usam maquiagem e acessórios metálicos.
- A música produzida na subcultura gótica, principalmente no período da década de 80, é um dos estilos cultivados. Mas outros estilos como o Metal, Clássico e Ethereal, também são muito consumidos.
- Não há rivalidade com nenhum outro grupo social.
- Os adeptos da Cultura Obscura são pessoas sociáveis e aceitam as individualidades de forma natural. Independentemente de seus valores, crenças, etnia, situação econômica ou orientação sexual. Assim, encontra-se de todas as etnias: brancos, negros, pardos etc. É falso o conceito de que são todos brancos ou pálidos.
- São socialmente e economicamente tão produtivos quanto qualquer outra pessoa.
MATÉRIAS
Os artigos à seguir, foram redigidos por pessoas que não fazem parte, necessariamente, da subcultura gótica ou cultura obscura. Portanto, os termos goticismo, gótico e expressões como arte gótica e movimento gótico são usados de forma simbólica sem embasamento histórico, que abordam equivocadamente a "tribo gótica" ou cultura obscura.
Estes artigos são úteis para expor o conceito que a sociedade possui em relação à subcultura gótica, cultura obscura e seus adeptos. Porém, não devem ser considerados em pesquisas que busquem uma base histórica e comportamental verdadeiras.
- Góticos pintam o rock de preto
- Góticos e a paixão pelo mundo das trevas
- Góticos são uma tribo obscura
- Gótico - Uma maneira diferente de encarar a vida
- Todas as facetas do gótico
- O lado negro da força
- O gótico é um anfíbio
- Gótico: o estilo sombrio está novamente na moda
- Visuais Góticos
Diz a lenda que o rock gótico começou na Europa no início dos anos 80, podendo-se considerar seu marco inicial o suicídio de Ian Curtis, vocalista da banda inglesa Joy Division. Idolatrado pelos góticos como Bob Marley é pelos rastafaris, acabou influenciando toda uma geração de bandas que estavam começando, dentre elas Legião Urbana e INXS.
Essa história, o caro leitor já pode até conhecer. Mas e a explicação de todos os mitos que envolvem esse movimento?
O principal mistério é: por que raios andar somente à noite e vestido todo de preto? Pode deixar que eu respondo: pelo simples fato de quererem se diferenciar dos punks e hippies. Mas ainda há outras explicações sobre a roupa preta.
Uns a adotaram apenas por gostarem da cor, outros por se identificarem com o "clima" que ela proporciona, também só para chocar com o impacto visual... Como nos últimos séculos o preto tem sido utilizado como a cor do respeito aos mortos, muitos outros começaram a usá-la, talvez pela perda de grandes artistas como Curtis.
Claúdia Silvério, de 27 anos, é casada e leva uma vida normal durante o dia. Cuida de sua casa, dos quatro filhos e à noite incorpora seu estilo com uma maquiagem pesada e roupa preta. "Há treze anos faço parte do movimento gótico. Gosto de me vestir assim, ouvir músicas depressivas e sempre que posso vou ao cemitério".
Já quanto a andar somente à noite, vem outra dúvida, com várias explicações: pelo visual que usam, é quase impossível ser vistos como pessoas normais durante o dia, tanto pelo clima (no caso do Brasil) como pela formação cultural dos outros. A noite também tem, por si só, um toque misterioso e depressivo.
Por que viver tão isolados e curtir uma música com letras tão depressivas? Os mais antigos contam que Ian Curtis se matou, basicamente, por dois motivos: seus problemas de saúde e os desentendimentos com sua esposa, Débora. Sofrendo ataques sucessivos de epilepsia (que às vezes aconteciam até durante os shows e não eram percebidos nem pela banda), o fato é que Ian tinha uma grande presença no palco. Enquanto cantava, fazia movimentos que foram chamados de dança epiléptica (não é piada não!). Era um jeito tão diferente de se expressar que poderia ser até confundido com seus ataques, a ponto de ninguém percebê-los.

Para quem já era fã do Joy Division, foi um passo para conhecer e começar a curtir o que estava aparecendo. Já a viver isolados, quem está depressivo vai querer companhia?
Por quê essa fixação por cemitérios? Existe uma paixão do gótico pelo medieval: desde o tipo de escrita até a arquitetura e as roupas (a vocalista da banda Siouxsie and the Banshees, por exemplo, na maioria das vezes só se vestia com roupas inspiradas nessa época).
Os cemitérios possuem dois elementos que fascinam os góticos, sua arquitetura (lápides muitas vezes com anjos e figuras que lembram o medieval) e a paz. É um lugar de total tranqüilidade!
As pessoas vão para lá para cantar e tocar violão, dançar, organizar saraus de leitura... ou não fazer nada! "Tiro muitas fotos quando estou no cemitério, das imagens de anjos e das grandes arquiteturas. O cemitério é o local ideal para conversar com os amigos, ler poesias e meditar, é o lugar mais tranqüilo que encontrei para me livrar de minhas neuras", disse Kelly Luziari Varin, de 24 anos.
Ainda quanto ao visual, por que se maquiar? A maquiagem não é um acessório obrigatório que todos adotaram, ela é mais utilizada para incrementar o visual. Ela não tem um significado especial para a maioria dos que a usam, é usada apenas para manter o visual depressivo.
Bem, agora, com certeza, suas dúvidas sobre o movimento gótico, ou pelo menos algumas delas, foram esclarecidas. Não é mais necessário se espantar, e ficar sem entender quando ver aquela "horda negra" indo rumo a um cemitério. Eles só estão buscando paz...
GÓTICOS E A PAIXÃO PELO MUNDO DAS TREVAS
Por acaso você já viu um pessoal que se veste todo de preto, geralmente maquiado com olhos escuros e pele pálida e que são conhecidos por visitarem cemitérios à noite? Eles são chamados de góticos e costumam vagar pelas grandes metrópoles do Brasil assustando as pessoas mais conservadoras com seu visual pesado e sombrio.

Para Javier Muniain, 17, que tem o estranho apelido de "Anjo em Pranto", o gótico é uma cultura. "Não é algo fechado. Cada gótico tem sua idéia do que é ser gótico", diz. Ele mesmo é um integrante desta tribo e explica que os góticos adoram literatura, artes plásticas, música e cinema. Ele quer ser cineasta, estuda teatro e tem uma vida como qualquer outro garoto da sua idade – estuda, namora, freqüenta baladas góticas com os amigos. É claro, que tudo em sua vida está muito ligado à um mundo de trevas. Lembra do Batman? O visual gótico é como o das histórias deste herói – cidades escuras, pessoas atormentadas e um mundo de fantasias que faz a gente ter medo da própria sombra. Segundo Javier, o rótulos são uma limitação e a personalidade da pessoa não é influenciada pelo pensamento gótico, mas ao contrário – pessoas que já tem uma inclinação para gostar de coisas mórbidas é que se identificam com o mundo gótico.
Elen Cristina de Souza, 17, também acredita que o mundo gótico acolhe pessoas que já se sentem "diferentes". "É um estilo especial de viver, uma filosofia diferente, um mundo mais romântico", diz. Elen, que só sai depois das 20 horas, explica o interesse que muitos góticos têm por cemitérios (eles pulam os muros de madrugada e muitas vezes são pegos pela polícia): "É um lugar calmo para refletir sobre a vida onde as pessoas conversam, bebem vinho e, às vezes, fazem amor".
Muitas pessoas acham que os góticos incentivam o suicídio, mas, para Elen, suicidar-se nada tem a ver com ser gótico, mas com ter problemas e querer fugir deles. Ela diz que já pensou em suicídio por causa de uma crise de depressão – doença muito comum entre adolescentes – e não por conta da filosofia de sua tribo. Elen, como a maioria dos góticos de São Paulo, freqüenta o Madame Satã – bar de São Paulo onde todo mundo costuma dançar sozinho virado para a parede como forma de introspecção.
Um lugar ótimo para conhecer gente diferente e encontrar pessoas que pensam como você, é a Internet. Muitos góticos têm blogs e sites o que facilita o encontro e a comunicação entre eles. Ana Lúcia, 20, é uma gótica escritora e fotógrafa que tem dois blogs o Câmara Obscura e o Goth. "A Internet é um tremendo espaço para colocar suas idéias e falar sobre cultura", explica Ana. E, além disso, é grátis! Todo mundo pode ter seu site e seu blog e trocar informações e conhecer gente.

Jogos de RPG costumam instigar esse lado fantasioso dos góticos porque assim eles podem viver um personagem, ser alguém diferente. Segundo Ana, esse jogo "abre campo para a imaginação das pessoas".
Parece que para todos os góticos entrevistados, o visual importa bastante, mas ao contrário do que a maioria das pessoas costumam pensar, ele é apenas uma maneira de exteriorizar o que esse pessoal tem dentro de si. Usar roupas escuras, usar maquiagem e agir de um jeito "meio estranho", como diz Ana, é só uma maneira de a pessoa expressar melhor ao mundo quem é de verdade.
Todos eles se tornaram góticos não porque o visual os atraiu, mas porque já se sentiam diferentes e acabaram achando gente que pensava como eles.
GÓTICOS SÃO UMA TRIBO OBSCURA
São Paulo - Pelas ruas da cidade é possível encontrar pessoas das mais variadas tribos: punks, clubbers, hippies, entre muitas outras. Os góticos, por exemplo, vestem-se de preto, usam maquiagem escura, preferem uma literatura que se aproxime mais do mórbido, vão à cemitérios e, em geral, são pessoas bem interessadas por arte e cultura. É possível encontrar um gótico à noite, mas eles tem seu espaço em bares, casas noturnas e lojas.
Segundo a estudante do ensino médio, Bárbara Thompson, 16, góticos são pessoas tristes com o mundo em que vivem, e o enxergam de outra forma. Em seus trabalhos artísticos, a escuridão torna-se uma característica marcante retratando um mundo de dor, rejeição e tristeza. Para muitos isso se dá pelo fato de serem pessoas, em sua grande maioria, sensíveis.
A Internet tem servido atualmente para divulgar essa cultura, possibilitando uma maior troca de informações. O metalúrgico Rodrigo Quintaneiro, 24, diz que "ser gótico é encontrar, e cultivar em si a essência que tende à solidão, ao noturno, sombrio". Ele é um dos responsáveis pela produção do site Spectrum Gothic, dedicado a informar sobre cultura gótica e assuntos relacionados.
O universo dessa tribo urbana pode ser encontrado em diversos meios de expressão, porém não é tão fácil encontrar alguém dessa tribo, ao menos que se procure em locais voltados para esse segmento. "Enquanto a maioria dos movimentos sócio-culturais (ou tribos urbanas) busca a exposição, socialização e o consumismo, o movimento gótico se opõe. Os góticos preferem a solidão, evitam se expor e não são adeptos do consumismo massificado", afirma Rodrigo Quintaneiro.
Segundo o DJ Cid Vale Ferreira, do site Carcasse - Comunidade Virtual da Arte Obscura, o gótico paulista não mantém os traços do gótico inicial. Em eventos como o RIP, que ocorre quinzenalmente no bar Salamandra (casa noturna localizada no Bairro de Pinheiros) o movimento sobrevive basicamente pela sociabilidade desse pessoal pois ocorre uma troca muito grande de informações.
Bandas como Bauhaus e The Cure, escritores como Edgar Allan Poe e Lord Byron, fazem parte da cultura dessa tribo. "A arte anda junto com o gótico, enfim, muitas coisas fora da compreensão humana e que causam fascínio pelo obscuro", diz Bárbara Thompson a respeito das formas de expressão góticas.
"Meu trabalho mescla, basicamente, cultura pop à coisas mórbidas, macabras. Sempre trabalho a partir do preto e depois parto para outras cores. Uma referência muito forte são pessoas fossilizadas. Uso muito materiais que se aproximam do fóssil", declara o ilustrador, artista plástico e cineasta Victor Hugo Borges. Ele afirma que ideologia é falsa, pois é algo totalmente mutável.
"Isso pode ser comprovado pela história da arte: os renascentistas usavam o termo gótico para descrever a arte bárbara; no século XVIII, o gótico passou a ser sinônimo de literatura de horror, no século XX, está muito ligado ao cinema de horror; que depois absorveu a estética de horror clássica do século XVIII", afirma Cid Vale Ferreira, a respeito das transformações pelas quais o termo gótico já passou.
GÓTICO UMA MANEIRA DIFERENTE DE ENCARAR A VIDA
Roupas pretas, gosto pela melancolia, tristeza, fazer saraus em cemitérios... Estas podem ser as características para se definir uma pessoa gótica. Mas será que realmente existe uma definição?

Mas pode-se dizer que os góticos gostam da noite, da vida e também da morte, da literatura, da arte, da solidão, do ocultismo, do amor. O mundo dos góticos não pode ser muito caracterizado, cada um define-se de uma maneira. Segundo Leandro Formagi, o Coruja, "o verdadeiro gótico é aquele que consegue enxergar a arte por trás da escuridão. É aquele que consegue transformar a tristeza e a melancolia em poesia". Já Ana Lucia Bertolani, acredita que quem tem a poesia obscura na alma e encontra refúgio na música, arte e estilo de vida que expressa obscuridade poética, pode se considerar gótico. Segundo muitos góticos a confusão chega a ser tanta que alguns já a ouviram perguntas absurdas como se góticos bebem sangue de criancinhas, se dormem em caixão, se é muito usado magia negra ou necrofilia, entre outros absurdos.
O motivo estaria na ligação que muitas pessoas acabam fazendo erroneamente, quando vêem os góticos como vampiros; pois há uma grande confusão por ambos terem gosto pela vida noturna, romantismo mórbido, a maneira de se vestir, caracterizadas por trajes antigos usados nos filmes. Mas principalmente porque grande parte dos góticos tem o costume de freqüentar cemitérios, mesmo durante a noite. Um hábito que pode parecer estranho para quem não entende, mas que segundo Coruja é muito simples. Nos cemitérios encontra-se paz. "É um local tranqüilo, onde pode-se escrever poemas, sem barulhos ou medo de ser assaltado", afirma. Ainda segundo Coruja, o problema de freqüentar cemitérios está nas pessoas que entram durante a noite para promover saques, acabando por deixar a culpa nos góticos, que utilizam o local apenas como fonte de inspiração, respeitando e de certa forma protegendo o cemitério. Ana Lucia complementa dizendo que "a fixação por cemitérios é maior no sentido intelectual, por expressarem a arte gótica e principalmente inspiração", mas Coruja explica e finaliza: "O que é escuridão para a maioria, é a fonte de criação para os góticos".
ANHK
O que é Ankh?
O Ankh é um símbolo que significa, entre outros, a imortalidade. É encontrado nas gravuras e hieróglifos a partir da 5ª Dinastia egípcia, principalmente nos Templos de Luxor, Medinet Habu, Hatshepsut, Karnak e Edfu. Além de obeliscos, túmulos e murais.

No Ocidente, o Ankh é conhecido como Cruz Egípcia ou Cruz Ansata. Esta segunda denominação tem origem na palavra latina Ansa, que significa Asa. Além destas, o encontramos como Chave do Nilo (ou da vida), Cruz da Vida ou simplesmente Cruz Ankh.
Porém, a maioria dos conceitos ocidentais não é correto, pois os egípcios da Antigüidade desconheciam a fechadura. Portanto, não seria possível associá-lo a uma chave.
Anatomia

A alça oval que compõe o Ankh, sugere um cordão entrelaçado com as duas pontas opostas que significam os princípios feminino e masculino, fundamentais para a criação da vida. Em outras interpretações, representa a união entre as divindades Osíris e Ísis, que proporcionava a cheia periódica do Nilo, fundamental para a sobrevivência da civilização. Neste caso, o ciclo previsível e inalterável das águas era atribuído ao conceito de reencarnação, uma das principais características da crença egípcia. A linha vertical que desce exatamente do centro do laço, é o ponto de intersecção dos pólos, e representa o fruto da união entre os opostos.
Cultura & Simbolismo
Apesar de sua origem egípcia, ao longo da história o Ankh foi adotado por diversas culturas. Manteve sua popularidade, mesmo após a cristianização do povo egípcio a partir do século III. Os egípcios convertidos ficaram conhecidos como Cristãos Cópticos, e o Ankh (por sua semelhança a cruz utilizada pelos cristãos) manteve-se como um de seus principais símbolos, chamado de Cruz Cóptica.
No final do século XIX, o Ankh foi agregado pelos movimentos ocultistas que se propagavam; além de alguns grupos esotéricos e as tribos hippies do final da década de 60. É utilizado por bruxos contemporâneos em rituais que envolvem saúde, fertilidade e divinação; ou como um amuleto protetor de quem o carrega. O Ankh também foi incluído na simbologia da Ordem Rosa-Cruz, representando a união entre o reino do céu e a terra. Em outras situações, está associado aos Vampiros, em mais uma atribuição à longevidade e imortalidade. Ainda encontra-se como uma alusão ao nascente-poente do Sol, simbolizando novamente, o ciclo vital da natureza.

Na cultura pop, ele foi associado pela primeira vez ao vampirismo e a subcultura gótica através do filme The Hunger - Fome de Viver (1983), em que David Bowie e Catarine Deneuve protagonizam vampiros em busca de sangue. Há uma cena em que a dupla, usando Ankhs egípcios, está à espreita de suas presas numa casa noturna ao som de Bela Lugosi is Dead, do Bauhaus. Assim, elementos como a figura do vampiro, o Ankh e a banda Bauhaus, podem atuar num mesmo contexto; neste caso, a subcultura gótica. Possivelmente através deste filme, o Ankh foi inserido na subcultura gótica e pelos adeptos da cultura obscura, de uma forma geral.
Desse modo, vemos que o Ankh não sofreu grandes variações em seu significado e emprego primitivo, embora tenha sido associado há várias culturas diferentes. Mesmo assim, lhe foi atribuído um caráter negativista por aqueles que desconhecem sua origem e significados reais; associando este símbolo, erroneamente, a grupos e seitas satânicas ou de magia negra.
O que Batman, o escritor Edgar Allan Poe, o roqueiro Jim Morrisson e o cineasta Tim Burton têm em comum? Todos eles são legítimos representantes de uma visão de mundo que enxerga a realidade através de um vidro obscurecido e vivem seus sentimentos de forma melancólica. Em outras palavras: eles são góticos. TODAS AS FACETAS DO GÓTICO
Livro guia para a cultura dark mostra como ela atravessou
os tempos e firmou-se entre as mais fortes influência do mundo moderno.
os tempos e firmou-se entre as mais fortes influência do mundo moderno.
De uma maneira até mais original do que aquele estereótipo do jovem que usa roupas pretas de couro, adornos em forma de crucifixo e se isola dos outros freqüentando cemitérios ou lugares abandonados. Se você ainda não está convencido de que pode ser também um "pouquinho" gótico, dê uma folheada no caprichado livro Goth Chic - Um Guia Para a Cultura Dark, escrito pelo jornalista inglês Gavin Baddeley. Dividido em capítulos que mostram as influências do gótico na construção da cultura moderna, o autor ilustra seu guia com imagens bem conhecidas do grande público - como os personagens Drácula, Wolverine, Buffy - A Caça-Vampiros, ou os integrantes da Família Addams. Mas não deixa de mostrar de onde surgiu a inspiração de seus criadores ou como esses ícones famosos na TV e no cinema moderno têm raízes que remontam aos contos da Idade Média.
O que é gótico?
Pode-se dizer que a visão gótica do mundo sobreviveu a mudanças históricas e se manteve viva graças ao seu caráter originalmente underground. A cultura dark sempre se manteve viva graças ao número de valiosos artistas que se identificam e contribuem com ela. O inglês Gavin Baddeley cita nomes importantes no decorrer dos dez capítulos de Goth Chic e explicita o que tem em comum gente como o autor Lord Byron, a escritora Susan Sontag ou o cineasta Oscar Wilde (com seu O Retrato de Dorian Gray).
Logo na introdução, ele explica como pessoas de épocas e comportamentos tão distintos, podem estar unidas por uma mesma linha característica de pensamento. "O gótico é uma barbárie sofisticada. É a paixão pela vida coberta pelo simbolismo da morte. É um amor cínico pelo sentimento. É uma combinação de extremos como sexo e morte. É utilizar a escuridão para iluminar", diz.
O livro aborda as principais características e os nomes mais importantes do gótico. Defende também que esse modo tão particular de ver o mundo está praticamente no DNA humano. O indivíduo é quem escolhe (insconscientemente) se vai - ou não - ficar imerso em seu lado melancólico. Aqueles que produziram dentro desse universo estão distribuídos em capítulos que falam de música, cinema, literatura, HQs, moda e até mesmo comportamento. Sexo e violência são elementos fundamentais na construção da imagem gótica.
Além de ser um excelente guia para entender o gótico muito além do conceito do senso comum, Goth Chic - Um Guia Para a Cultura Dark traz farto material fotográfico. Isso torna a obra ainda mais interessante de ser folheada. Depois de Goth Chic, você irá assumir seu lado mais obscuro. O livro Goth Chic pontua o universo gótico e mostra como ele é importante na cultura pop atual.
Trevas no cinema, nos quadrinhos e na TV
Tim Burton é um dos cineastas que mais ajudam a entender o conceito de gótico. Qualquer um de seus filmes - de Edward Mãos de Tesoura (1990) à animação Noiva-Cadáver (2005) -, traz a morte como personagem fundamental da trama. E não é à toa que o ator Johnny Depp é o preferido para os longas de Burton: quando se pensa em astro hollywoodiano, Depp tem o mesmo talento para o dark que Bella Lugosi tinha para os filmes de terror do começo do século.

A vingança autodestrutiva é um poderoso tema gótico. Pode ser vista nos quadrinhos de Batman, Sin City, Motoqueiro Fantasma, ou em personagens como O Corvo, Lobisomem e Drácula. Entre os escritores, Stephen King, Edgar Allan Poe, Marquês de Sade e, claro, Anne Rice, são exemplos da literatura gótica.
As mulheres na cultura gótica ultrapassam os limites da sensualidade e perigo típicos da femme fatale noir. São literalmente agressivas, violentas. Causam arrepios de medo e de desejo ao mesmo tempo. Um exemplo é a Mulher-Gato, idealizada nas HQs (e que não tem nada a ver com aquela interpretada por Halle Berry em filme homônimo). Michelle Pfeiffer consegue transportar essa belicosidade feminina para as telas como a Mulher-Gato de Batman - O Retorno (1992). Outra atriz que se encaixava nessa definição gótica da mulher foi a polonesa Ingrid Pitt, que se tornou a mais famosa heroína de filmes de terror na década de 70, sendo o mais popular deles o thriller A Condessa Drácula. Em Goth Chic, o autor Gavin Baddeley trata Ingrid como "a gata gótica sedenta por sangue".
A cor negra não é a única característica que marca a influência gótica na moda que vemos nas ruas por conta do inverno. O preto ocupa grande destaque, mas o gótico também é marcado pela presença de batas leves com decotes profundos e tecido transparente. Elas são inspiradas nas camisolas que as vampiras usavam para seduzir suas vítimas nas histórias de terror. Casacos e camisas de estilo vitoriano também têm um "quê" de dark. Faz parte do anti-herói ser elegante, mesmo que trilhe caminhos obscuros da existência.
O LADO NEGRO DA FORÇA
Existe em Portugal a idéia de que os "góticos" são todos seres soturnos, que gostam todos de cemitérios, que nenhum admite ir à praia, que são tristes e melancólicos. A tristeza e melancolia sim, face aos preconceitos e desconhecimento dos seus ideais e origens culturais. Há nas reuniões de gente vestida de negro uma alegria e romantismo que se reflete metaforicamente através da lua. O seu "satélite do amor". No entanto, alguns, não sabem colocar limites às necessidades teatrais. Afinal, o que os distingue?
Imagine uma história que recorra à crueldade e perversidade como forma de glorificar a virtude - que no final sempre triunfa. Uma donzela virtuosa, um herói apaixonado e um vilão que não olha a meios para obter os seus fins. A isto, acrescente as forças ocultas do sobrenatural e um ambiente tenebroso. "Tempere" depois, com os seguintes elementos: a existência de um antigo manuscrito; magia; fantasmas ou espectros; loucura e sonhos proféticos; um castelo antigo ou em ruínas; obras de arte, armaduras e espadas ferrugentas; crimes e imenso sangue; religião católica; Itália; e a Natureza como "leit-motif". Resultado: a essência do "Gótico". Com estes "condimentos" é fácil apontar o dedo.

Para Sara Patrão, 28 anos, sócia e relações públicas do CultoClub, em Cacilhas, a origem dos preconceitos está no desconhecimento generalizado das origens e desenvolvimento ao longo da história do conceito de Gótico. "A origem do termo Gótico, vem dos Godos, uma tribo germânica do século III / IV. Mas foi no século XIX, através da novela gótica, os autores chamados "satânicos" ou laquistas, o Locus Horrendus, os românticos com toda a sua teatralidade estética (olheiras, vestimenta negra), o interesse pela anatomia (nomeadamente o esqueleto humano e todos os seus ossos), os cemitérios, os romances de cavalaria, o morrer por amor, as ruínas, as pinturas soturnas, o sangue e toda uma panóplia de interesses que mais tarde criaram os clichés".
Em Portugal, o movimento, apesar de já bastante difamado, ainda é recente. "O Gótico surgiu nos meados dos anos 90, mas apenas em ambientes restritos. As pessoas encontravam-se em concertos, festas organizadas que envolviam sempre música e moda (o modo de vestir identificava as pessoas). Atualmente, o Gótico manifesta-se com maior força na faixa etária mais jovem, dos 15 aos 25 anos. Existem sites onde ainda se pode ouvir música Gótica: Tocsin, Jukebox, Disorder, Festas Graveyard Sessions – em Lisboa. Em Almada, o Lado Negro bar e o Culto bar. Em Setúbal: o La Bohême, e no Porto: o Heavens Gothic bar. Também existe lugar para a moda Gótica: vestuário e acessórios por medida com influências medievais, góticas, lolita, cyber, fetiche e punk, podem ser adquiridos na loja Darkfashion", explica Vanessa Virgílio.
Se o negro é a cor base na indumentária Gótica, também na música ela é predominante. Bandas como Siouxsie and the Banshees, The Damned, Bauhaus, The Cure, Joy Division, Sisters of Mercy, UK Decay, Fields of the Nephilim são no entender da estilista "muito importantes na manifestação do Gótico". Também a literatura ajudou a consolidar o movimento. Shakespeare é exemplo disso, ao utilizar, nas suas peças, uma parte dos elementos que se encontram na escola gótica, como é o caso do fantasma em Hamlet, as bruxas em Macbeth ou o carácter distorcido de Ricardo III na peça com o mesmo nome.
"Mas as aparências iludem e nem todos os Góticos são seres soturnos. Existem uns que gostam de praias, outros não (se calhar porque virão em algum Drácula ou leram num livro que não se podia apanhar Sol), o ser triste e melancólico, faz parte de estados de espírito e nem sempre nos sentimos alegres ou felizes, embora conheça uma pessoa ou outra que é o expoente máximo da alegria e da despreocupação! Mas se a maioria continuar a acreditar nisso e a mensagem passada for essa, a idéia tem tendência a aumentar", confessa Sara Patrão. Como em todos os grupos sociais, alguns não sabem colocar limites às necessidades teatrais. "Há sempre quem caía em exageros. Há quem se julgue vampiro. Há quem se entusiasme e ande de espada em pleno metrô. De fato há pessoas que não sabem colocar limites, e talvez sejam estas situações a causa dos tais preconceitos que existem e que marcam pelo exagero o movimento Gótico", diz Vanessa Virgílio.
A reforçar a idéia, Sara Patrão destaca a "maturidade para criar e desenvolver projetos, parcerias. Saber se é aquilo mesmo que se quer fazer, sentir que é esse o caminho. Se cada um continuar a pensar que vestido vai usar na próxima festa, ou que CD vai comprar para ter mais que o amigo da tribo não vamos a lado algum… E o chocar por chocar também não vai ajudar. A estratégia é a união." A verdade é que há nas reuniões de "gente vestida de negro" uma alegria e romantismo que se reflete metaforicamente através da lua. Em jeito de desabafo, Sara Patrão afirma: "A sociedade gosta de me "apelidar" de Gótica. Eu prefiro apelidar-me de ultra-romântica, mas já me chamaram nomes mais feios! Um tipo vestido de preto é Gótico… Um de branco é o quê?"
O GÓTICO É UM ANFÍBIO
Linguagem dos góticos brasileiros reproduz estilo de vida dividido entre o mercado de trabalho e a subcultura
Eles são pais de família, vão à padaria, põem gravata, levam o filho à escola e saem para o expediente. Alguns são até vovôs. Mas não deixam de ser góticos. Com todo capricho que define um grupo urbano marcado pelo sombrio: vestidos de preto na maioria, cultores da noite, com maquiagens dramáticas e um ar melancólico algo irônico, quem sabe dissimulado. A cena gótica, que desde as primeiras importações em 1985 busca afirmar-se no país como subcultura global, típica da dinâmica das grandes cidades, integrou-se à economia de consumo, mas sobrevive sem perder a identidade.
Só na capital paulista estima-se que algo em torno de 6 mil pessoas (as estimativas são falhas e temerárias, dizem os góticos) tomaram para si os sentidos contidos no adjetivo inglês goth, no que ele sugere de vitoriano, sombrio, misterioso, fantasmal, onírico e macabro.
Embora não seja fértil em gírias características, o universo gótico brasileiro tem uma relação por assim dizer "expressionista" com a linguagem. É comum o uso consciente de arcaismos de linguagem ou de um tom premeditadamente pomposo, em sintonia com uma certa atitude teatral no comportamento.
Palavras antigas, citações latinas, saudações arcaicas (como "beijos trevosos", "beijos sangrentos", "saudações terrenas" e "lembranças eternas"), além de construções rococós ("Por meio desta vossa senhoria está convidada..."), povoam mensagens impressas e on-line dos góticos. É nesse contexto que se pode entender a popularidade no meio de expressões como carpe noctem, equivalente soturno para a latina carpe diem (viva o dia, em alta desde o filme Sociedade dos Poetas Mortos, de 1989).
A relação dos góticos com o nome próprio assume também valores para a subcultura. Muitos adotam codinomes imaginários, mas é comum ver o nome de batismo vir acompanhado por sobrenome que remeta a uma música ou cantor de uma banda do gênero. Proliferam, assim, sobrenomes como Bella Morte, Wolf, Manson. Ou prenomes formados por títulos aristocráticos que aludem vagamente ao romantismo vitoriano, como Lord, Marquês ou Lady (o codinome Deusa é a moda do momento).
Espírito de época

"O gótico é uma subcultura formada por quem não alimenta ilusões de que a sociedade seja boa, nem que seja possível estar contra ela. Por isso, cria um espaço em separado em sua vida. É uma visão critica, mas ao mesmo tempo escapista" - diz o ilustrador gaúcho Henrique Antonio Kipper, de 36 anos.
Gótico desde que chegou a São Paulo em 1990, Kipper acredita que a subcultura há muito ultrapassou o limite efêmero que data e enterra as modas passageiras.
"O gótico dos dias de hoje é um ser anfíbio, que sofre a pressão para ingressar na sociedade de consumo quando completa 21 anos. Nem sempre se conciliam essas coisas. Mas há um "núcleo duro" que mantém a integridade de "subcultura", algo que não é movimento com um ideário político, mas tampouco é só a moda da estação" - confirma Kipper, que é casado, pai de um menino de 14 anos.
A caricatura mais frívola costuma povoar o imaginário dark com modelos e ícones que restringem o gótico à cultura de cemitérios e crucifixos e a jovens frívolos e preocupados com a aparência. O chamado "núcleo duro" do gótico nacional, no entanto, viu muitos adolescentes renovarem as gerações góticas a cada cinco anos e, do entusiasmo de primeira hora, desistirem da subcultura quando ingressam pra valer no mercado de trabalho. À sombra desse público rotativo, muitos fizeram do comportamento gótico sua razão de ser e vivem a vida "anfíbia". Só em São Paulo, estima-se que mil pessoas formem esse "núcleo duro" do gótico de raiz. Ao contrário de góticos de outros países, o brasileiro seria anfíbio por alternativa de mercado, desconfia o publicitário André Scarabotto, o Lord A, de 28 anos.
"No exterior já há um mercado melhor definido, em que os góticos podem ser profissionais dentro da própria subcultura. Trabalham em lojas de roupas, produção de clipes e revistas, estúdios de gravação para bandas do gênero".
No Brasil, o gótico teria se tornado mais anfíbio por, em resumo, não poder ser gótico o tempo inteiro. Lord A diz que convive com todo tipo de profissional gótico, como bancários, engenheiros, advogados e médicos.
"O gótico brasileiro é um descontente com esse mundo sintético, desumanizado, onde a sociedade deixa a gente se sentir mal até quando você não se encaixa em rótulos. Ele reage a isso, cria uma vida à parte, mas, como não tem jeito, vai trabalhar no dia seguinte".
Glocal
Surgido na Inglaterra, exportado para a Europa continental, depois para os EUA e de lá para o Brasil pós-ditadura militar, o gótico assumiu traços locais, apesar do internacionalismo ser uma de suas tônicas (um gótico búlgaro lembrará muito um brasileiro ou inglês). Kipeer acredita que uma característica lusa muito forte, a sensação de nostalgia, encontrou forte acolhida no Brasil. "Mesmo antenados e bem informados, muitos por aqui tendem a curtir mais as fases antigas do gótico do que as novidades. A sensação de que houve um paraíso perdido, uma necessidade de volta ao passado, está menos contida nas tendências góticas que imaginam um futuro tecnológico decadente" - comenta Kipper.
Mas não há definições claras sobre o estado de ser de um gótico. Haveria menos um sistema de regras para caracterizar alguém como gótico, do que um de tabus. Os integrantes da subcultura gótica em muitos casos relegam, na boa, temas considerados recorrentes, como a bruxaria, o vampirismo e o culto a mortos-vivos.
A sensação de desajuste, o apelo à vida subterrânea, parecem ser tão definidores do gótico como o apreço por símbolos recorrentes (lua, noite, inverno, outono, etc.), por decadência, pelo expressionismo alemão, pelo terrir de si mesmo e o gosto por tudo o que lembre uma obscuridade otimista. Poucos grupos parecem buscar tanto o guarda-chuva de um rótulo para reafirmar a agonia de ser enclausurado por ele. (Colaborou LCPJ)
Palavras e expressões góticas
Mexerica
É algo "típicamente gótico". Pode ter a conotação de "exagerar" ou ser "afetado" no comportamento, linguajar ou visual gótico. Gíria já antiga na cena gótica brasileira, usada tanto de forma carinhosa como pejorativa. Pode querer dizer que algo é "estereotipadamente gótico, tanto para o bem como para o mal". Considera-se que todo gótico tem seu momento mais "mexericoso".
Wannabe
Equivalente a "querer ser" em inglês. Significa alguém novo no meio, que ainda está aprendendo ou ainda não sabe muito. Dependendo da pessoa que usa o termo, pode ser usado no sentido positivo ou, mais comum, como crítica discriminatória.
Thru
Para os veteranos, é o nome de quem já era do meio antes da moçada mais nova virar gótica. Expressão oriunda do universo dos metaleiros. O thru seria o "mais verdadeiro", "mais real".
Carpe Noctem
Um trocadilho. "Aproveite a noite", variação gótica para "carpe diem", antigo lema latino hedonista, propagado no país depois do filme Sociedade dos Poetas Mortos.
Vampyro
A palavra "vampiro" é grafada com y propositalmente, para distinguir seus membros do personagem cinematográfico e folclórico. A subcultura vampyrica teria a pretensão confessa de compartilhar pressupostos do existencialismo.
Catar uva
Nomeia um tipo de dança chamado "etereo", num estilo que permite passos e gestual que lembram vagamente o movimento de catar uvas no ar. Usada com ironia, a palavra pode significar que alguém desatento repentinamente "pescou" idéias no ar.
Limpar teia de aranha
Modo de mover os braços quando se dança, como se afastasse teias no ar. Ironicamente empregado no sentido de "desatualizado".
Antes de sair à noite, não esqueça os óculos escuros
Baladeiro, o gótico se diverte por toda a noite e deve estar prevenido para que o sol não lhe doa a vista, ao sair dos encontros góticos pela manhã. A frase também alude a um dos fetiches das bandas do gênero, o vocalista de óculos escuros.
Sobrenatural de Almeida
Tradição gótica se filia à literatura romântica com mais facilidade do que com indevido parentesco com os godos antigos. É unânime entre os membros do grupo que o termo "gótico" surgiu a posteriori, depois que as primeiras manifestações da subcultura começaram a tomar forma, nos anos 70 e 80. Com significados particulares em diferentes períodos históricos, a apropriação do termo pela geração dos anos 80 encontrou eco no ideário difundido pelos romances e dramas britânicos publicados entre 1764 e 1820, também conhecidos como Gothic Novel, por seu caráter fantástico.
Remetem a uma atitude espiritual trazida pelo Romantismo entre a metade do século 18 e início do 19 que iria solidificar uma postura em defesa da liberdade de sentir e se expressar, condenando o absolutismo político, religioso, social e estético. Ambientado inicialmente na Alemanha e Inglaterra, o movimento romântico vai espalhar pelo mundo uma nova postura, pautada no pessimismo, na embriaguez e fuga da realidade, e, fortemente, no elemento fantástico, principal referência para a subcultura gótica e suas variantes mais recentes.
Para Cid Vale Ferreira, de 27 anos, autor de Voivode - Estudos Sobre os Vampiros e editor do site Carcasse, referência em ciberpesquisa sobre essas subculturas, o elemento sobrenatural foi fator importante na criação dos romances e dramas que tinham na superstição medieval e no humanismo trágico suas principais fontes.
"Na própria Inglaterra, uma das mais populares correntes do romance gótico baseava-se no chamado 'sobrenatural explicado' (à Ann Radcliff, com 'assombrações' forjadas ou apenas aparentes), que, levemente reformulado, daria origem ao 'romance histórico' do século 19. Na França, a ambientação de tramas tipicamente góticas no submundo urbano culminou no 'romance social' à Eugène Sue. No Brasil, temos no byronismo uma infinidade de obras de teor fatalista e macabro sem qualquer alusão ao sobrenatural".
O elemento fantástico, que inspirou os contos do americano Edgar Alan Poe ou o Frankenstein, de Mary Shelley, estaria presente na simbologia da subcultura gótica, comumente associada à noite, às práticas místicas, ao culto à morte ou a seres de natureza ficcional soturnos, como vampiros e bruxas, sem, no entanto, explicar em definitivo seus múltiplos aspectos.
"Muito do que podemos adjetivar de "gótico" tem no gótico inglês setecentista apenas seu impulso inicial. A estética em si, com seus peculiares conceitos de beleza e sublimidade, sobrevive com ou sem o elemento sobrenatural, com uma incrível capacidade de se adaptar aos tempos e culturas em que se inscreve."
GÓTICO: O ESTILO SOMBRIO ESTÁ NOVAMENTE NA MODA
Visual sombrio, com muito preto, maquiagem carregada e pele pálida. Essa série de características são facilmente relacionadas com o estilo gótico, que há tempos influencia a moda com sua estética soturna e misteriosa. Para fazer uma retrospectiva e prestar uma homenagem, o importante museu do Fashion Institute of Technology (FIT), de Nova York, inaugurou nessa semana (setembro de 2008) a exposição Gothic: Dark Glamour. Ao que tudo indica, o visual fará sucesso nos próximos meses.

O espírito gótico foi resgatado pelos jovens ingleses no final da década de setenta. Usando roupas pretas repletas de crucifixos e caveiras, com penteados desarrumados e maquiagem muito carregada, os seguidores desse movimento buscaram inspiração na morbidez e no romantismo, cultuando a tristeza e a melancolia. Bandas como The Cure, Siouxsie and the Banshees, Bauhaus e The Cult ajudaram a levar o estilo para o grande público, tornando-o muito popular durante os anos 80.
Desde então, a moda e os mais importantes estilistas vêm buscando no visual gótico inspiração para muitas de suas criações. Karl Lagerfeld, John Galliano, Jean Paul Gaultier, Christian Lacroix, Thierry Mugler e Yohji Yamamoto são só alguns dos grandes criadores que irão participar da exposição do FIT com roupas que buscaram referência no estilo gótico. E para provar que o look gótico vai estar com tudo na próxima estação, elementos obscuros e macabros apareceram nos últimos desfiles de inverno de renomadas grifes internacionais como Givenchy, Zac Posen, Rodarte e Vera Wang.
Adaptar o visual gótico para roupas do dia-a-dia não é complicado. Uma boa idéia é apostar no look preto total, combinado com acessórios prateados ou vermelhos. Rendas, corpetes e sobretudos também ajudam na hora de montar a produção. A maquiagem pode ser um pouco mais carregada, com pó ou base clara, lápis ou delineador preto e batom vermelho. Mas cuidado para não ficar com a expressão muito carregada. Uma boa dica é buscar inspiração nos filmes do cineasta americano Tim Burton, um dos mestres em reproduzir a estética gótica no cinema, como fez nos filmes Sweeney Todd e Edward Mãos-de-Tesoura. Mas cuidado para não se empolgar muito e sair de casa parecendo a protagonista de Noiva Cadáver.
Talvez muitos não saibam, de fato, o que faz um visual ser gótico, ser dark ou apenas uma mera convenção de pessoas que querem dar uma de "trevosos", por assim dizer. É complicado, principalmente com a difusão dos pseudovisuais góticos por grupos como o Evanescence e a falta de conhecimento da grande mídia, que divulga valores as quais não tem nenhum conhecimento prévio.

Esse visual tem um apelo muito mais futurista. Começou nos anos 70, na Inglaterra, berço de boa parte das modas musicais do mundo. E tudo começara apenas como uma piada contra os grandes nomes da cena musical, como o Yes. Era uma forma descontraída de ir contra o movimento hippie, muito em voga na época.
Toda essa irreverência e estilo foram passados ao gótico através de uma série de fenômenos musicais. Assim como aconteceu com o visual punk, todo colocado como um sinal de rebeldia contra o sistema, com seus cabelos espetados, coturnos e outros adereços. Esse visual, rebelde, cairia de moda com as bandas de post-punk, que dariam um ar mais sombrio aos rebeldes.
O Joy Division já prenunciaria alguma coisa do visual gótico. Talvez a banda de post-punk mais famosa, eles adotavam um certo visual "retrô". Sobretudos, roupas mais sóbrias, junto com um ar triste e melancólico em seus sons ajudaram a dar um certo "charme" ao que viria, mais tarde, a se tornar um visual gótico. Isso não quer dizer que o visual e a banda sejam góticos. Nunca foram. Apenas que a idéia desse visual já é perceptível a partir desse ponto.
Os visuais góticos
É certo que a primeira banda a começar com a estética visual gótica foi a banda Bauhaus. Peter Murphy e os outros abusavam de um visual nitidamente inspirado no glam de David Bowie. Esse visual, sombrio, decadente, aliado a sua sonoridade mais introspectiva deram a banda a alcunha de gótica. Não é por menos que são dados como os inventores do gótico, com seus penteados e roupas que pareciam antiquadas, indo contra o ideal moderno que se tinha na época.

Siouxsie and the Banshees criou, sob a figura de sua vocalista, boa parte do visual dark que viria a ser incorporado na cena gótica. Maquiagem pesada, roupas fetichistas e performances que influenciaram muita gente ao longo dos anos 80 em diante. Se tem hoje a banda como influente até mesmo em bandas não-góticas. Scarlet, vocalista da banda italiana Theatres des Vampires mostra, em seu visual, claras referências a Sioux Siouxsie, mesmo em sua fase mais black metal.
A moda, gótica, contudo, só ganharia esse estado graças a um clube londrino, a Batcave. Seu foco era a new wave e o glam rock. Com o tempo, passou a incorporar o gothic rock como foco principal de suas atividades musicais. Pessoas como Robert Smith, Siouxsie Sioux, Steve Severin, Foetus, Marc Almond, Nick Cave e Danielle Dax eram freqüentadores desse clube. Por conta disso que a moda dark começou a ser incorporada a uma nascente cena gótica. Movimentos como o gothic rock, dark cabaret e deathrock ganharam força com o advento da Batcave. Nela começaram também os experimentos com música eletrônica, visível em boa parte das bandas de darkwave.
Moda gótica versus moda metal
Muitas vezes as pessoas confundem um visual gótico com apenas "se vestir de preto" e ter um "visual trevoso". E vamos a algumas constatações.
São poucas as bandas de gothic metal que usam ou já usaram algum visual mais glam ou mesmo gótico. Em geral as bandas de metal usam preto como cor principal. Quase nunca diferem desse tipo de coisa, usando roupas comuns, penteados comuns, apenas com uma aparência um pouco mais sombria. Mas nada que tenha alguma importância na concepção visual do seu estilo.
Isso se deve as heranças hard rock do metal. Bandas como Black Sabbath já adotavam um visual mais parecido com o que se vê hoje. Mesmo sem ser algo exagerado, essa concepção foi levada adiante.
Temos os visuais masculinos altamente agressivos. O uso despikes, corpse paint, cabelos compridos desgrenhados, rapazes geralmente fortes, roupas de couro, cintos com balas de armas. Jaquetas de couro com rebites. Expressões e gestos que expressem poder, atitude, força. Réplicas de armas, em estilo medieval. Roupas que expressem o fator violento do som. Os visuais femininos tendem a parecer algo mais vulgar, com roupas mais juntas ao corpo, vestidos com aquele ar mais "antiquado", pouca maquiagem. Cabelos sempre perfeitos, sedosos, compridos.
Já no visual gótico, há uma tendência mais glam, mais feminina. As roupas, por mais sombrias que sejam, nem sempre são pretas ou trazem aquele ar carregado e agressivo. Os homens tendem a usar sobretudos, capas, roupas femininas, maquiagem, penteados diversos. As mulheres possuem um apelo mais sensual e mais provocativo, usando menos da vulgaridade para compor seu estilo. Há o uso intenso de maquiagens, sombras e outros apetrechos. Muito embora seja uma forma mais exagerada de conceber um visual, o gótico não se torna agressivo. Ele deixa transparecer um sentimento mais nostálgico e menos "heróico".
Isso acontece por conta dos valores. O heavy metal carrega valores altamente masculinos, que são a força, a conquista, a brutalidade, o machismo. Já o gótico, por herança do glam rock, traz no seu visual uma estética feminina, que se preocupa com detalhes, com as sutilezas e com a beleza. Esses são trabalhados, há todo um cuidado com o significado do visual atrelado ao som que tocam, coisa que passa desapercebida pelo metal.
Mas não é possível o metal ser gótico?
Algumas bandas do dito gothic metal se valem, vez por outra, do visual gótico ou glam. Um grande exemplo é o Entwine. É nítido que seu visual possui fortes bases de glam rock, tanto que o vocalista possui um certo ar "feminino", coisa que faz com que muitas vezes sejam aceitos pelo meio gótico. Os finlandeses do Reflexion possuem um certo ar de glam em seu visual. Tocam um misto de gothic metal com gothic rock, fazendo um som moderno, assim como seu visual.
Os italianos do Theatres des Vampires possuem um ar gótico em seu visual. Muito embora ainda esteja atrelado ao vulgarismo e ao machismo preconizado dentro da cena metal, há uma forte tendência gótica nele, sobretudo na figura de sua vocalista, Scarlet. Por isso, tomem cuidado ao achar que qualquer roupa preta e um ankh é gótico.
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